O sistema neurológico está adaptado para receber os estímulos sensitivos, associá-los a padrões preexistentes na memória e reconhecer a informação primitiva por seu maior grau de probabilidade. O que você lê na imagem?
No dicionário Aurélio, preconceito está assim definido:
“Conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; ideia preconcebida. 2. Julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste; prejuízo. 3.P. ext. Superstição, crendice; prejuízo. 4.P. ext. Suspeita, intolerância, ódio irracional.”
De maneira geral, o preconceito representa uma forma de pensamento no qual o indivíduo chega a conclusões que entram em conflito com os fatos em questão. O intelectualismo e argumentações moralistas abominam qualquer forma de preconceito. Quando se é vítima de um julgamento que levanta suspeita sobre sua origem racional, condena-se o sujeito responsável por tal pensamento. Seja uma questão de cor de pele, uma suspeita quanto à capacidade de um deficiente físico, uma intolerância quanto aos estilos diferentes, a distância mantida em relação às pessoas de nível socioeconômico diferente ou àquelas com baixo grau de instrução escolar. O fato é que o preconceito é multifacetado, sendo seu lado mais manifesto o que trata das questões sociais.
Mas o que as pessoas não percebem é que exercitam o preconceito toda vez que fazem escolhas. Ao selecionarem com quem conversar, onde trabalhar, quem contratar, onde fazer compras, onde comer, onde sentar, que tipo de transporte utilizar, ou qualquer outra escolha, manifestam algumas facetas desse preconceito arraigado, mesmo que tais escolhas não acarretem grande prejuízo próprio ou a terceiros. Se naturalmente concebido, qual a origem desse olhar parcial e “distorcido” sobre a realidade?
A memória
Através dos cinco sentidos, informações são coletadas, processadas e armazenadas em um grande banco de dados, o cérebro. A ação é determinada por um grau de conhecimento prévio, pelas informações e experiências acumuladas no decorrer da vida, mesmo que o comportamento neste caso seja condicionado ou inconsciente.
Quando se estuda as conexões cerebrais, pelos aspectos da memória, entende-se que são redundantes. Uma redundância suficiente para que, mesmo se apenas uma parte do padrão de um objeto for apresentada à rede neural autoassociativa, como por exemplo, as características cor verde e ser mastigável, o resto do padrão – a evocação do conceito de hortaliça – é completado automaticamente. Não se faz necessário, portanto, o emprego de etiquetas de recuperação pré-definidas para itens da memória, já que quase qualquer aspecto de um objeto pode trazer à mente o objeto inteiro. Um exemplo visual é a capacidade de completar uma palavra a partir de poucos fragmentos dela. O que você lê no exposto a seguir?
O seu cérebro não percebe a figura como segmentos aleatórios, ou mesmo uma sequência arbitrária de letras MFHTF, como poderia perfeitamente o ser, mas algo mais provável: MENTE.
Portanto, o sistema neurológico está adaptado para receber os estímulos sensitivos, associá-los a padrões preexistentes na memória e reconhecer a informação primitiva por seu maior grau de probabilidade. Se os objetos em geral são conhecidos (como pessoas, coisas, lugares ou palavras), levando-se em consideração a familiaridade, já se parte de um ponto de vista preconcebido. Ao julgar os fatos, inevitavelmente o indivíduo o faz do ponto de vista pessoal, em consonância com as suas memórias particulares.
Só nos resta refletir…
Entretanto, uma característica aparentemente exclusiva no mundo animal, a capacidade reflexiva, que significa debater uma decisão antes de tomá-la procurando antecipar seus possíveis efeitos, coloca o homem em lugar de destaque e, logo, maior responsabilidade na escala de concepção darwinista. E isso deveria ser suficiente para que pudéssemos entender melhor e reavaliar nossas experiências, para finalmente, atualizar nossos conceitos.
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