Uma forma de reconhecer, outra de desenvolver
A inteligência musical é a habilidade de apreciar, discriminar, transformar e expressar as diferentes formas musicais. Dentre outras coisas, os indivíduos que apresentam esse tipo de inteligência desenvolvida são mais sensíveis ao ritmo, ao tom e ao timbre. A maioria das pessoas, mesmo que de uma forma não profissional, consegue reconhecer uma pessoa musicalmente talentosa; no entanto, medir objetivamente esse grau de talento é um desafio, e os estudos da inteligência musical poderiam ser úteis. Enquanto a inteligência representa um fenômeno cognitivo complexo, que inclui vários tópicos a serem avaliados, o talento é a capacidade de exercer ou desempenhar bem certa atividade, e tende a ser inato embora também possa ser treinado e desenvolvido. Para ilustrar melhor esses conceitos, duas perguntas podem ajudar: você tem talento para a música? Qual é o seu nível de inteligência musical?
Na obra ‘A Estrutura da Mente’, elaborada em 1983, Howard Gardner lembra que, já nos primeiros meses de vida, bebês são capazes de acompanhar o volume e os tons das canções maternas. Pouco tempo depois já conseguem se adaptar aos sons do ambiente, realizando movimentos corporais mais coordenados, como saltos e ‘coreografias’ com os braços. Mesmo sendo importantes mês a mês, é por volta dos 4 aos 6 anos de idade, segundo o próprio autor, que os estímulos para o desenvolvimento musical são mais produtivos. Um rico retorno sonoro nesta fase da infância pode ser fundamental para o surgimento de habilidades futuras relacionadas à música.
Como vimos anteriormente, o reconhecimento subjetivo de um talento costuma ser uma tarefa mais fácil do que a mensuração do nível de inteligência que uma pessoa apresenta em relação à música. O conceito básico de inteligência faz referência à capacidade de coletar, perceber e interpretar informações e aplicá-las bem na resolução de algum problema existente, no qual o indivíduo esteja focado. Especificamente em relação aos sons, a identificação precisa de notas (ouvido absoluto) e a adequada manipulação dos músculos corporais a fim de produzir sons e movimentos satisfatórios (cantar e dançar) são apenas algumas das habilidades que ilustram o processo. A avaliação da inteligência musical se resumiria a isso? Será que as diferenças nas habilidades apresentadas por alguns músicos seriam resultado das diferenças proporcionados pelo talento inato ou fruto de conquistas alcançadas pela experiência ao longo de uma vida de preparação? Como reconhecer objetivamente um talento para a música? E mais, como desenvolver a inteligência musical?
Particularmente interessado em audiologia, psicologia da música, fala e gagueira, artes gráficas, motivação e aptidão escolar, Carl Seashore foi um nome muito importante para a música no século passado. Um dos testes mais conhecidos de aptidão musical, e desenvolvido por ele, é o de Medidas de Talento Musical (1939), uma versão ainda utilizada em diversas escolas mundo afora. Para o autor, o rol de competências cognitivas relacionadas à música pode ser fragmentado em subcategorias e, com isso, seria possível isolar as “diversas facetas” do desenvolvimento musical. Em 1919, no trabalho intitulado The Psychology of Musical Talent, já chamava a atenção:
Será que você tem talento para a música?
A mensuração individual de aspectos musicais tais como percepção de timbre, intensidade, intervalo, ritmo, altura, memória musical, qualidade da voz, controle de voz, acuidade auditiva, dentre outros, torna a avaliação do talento musical mais racional e favorece a aplicação de técnicas eficientes para o desenvolvimento deste tipo especial de inteligência. Além disso, o número crescente de estudos confirmando os seus efeitos benéficos para o cérebro faz com que a música – como ilustrado no último parágrafo – seja incorporada no dia a dia de diversos profissionais da educação e consolide-se como ferramenta psicopedagógica útil.
Independente de um talento inato ou não, crianças que recebem aulas de música regularmente apresentariam suas capacidades cerebrais ampliadas pelo resto da vida adulta. A informação é de uma pesquisa publicada na PLOS One, a qual detectou que os cérebros de crianças que receberam aulas particulares de música por pelo menos dois anos revelaram maior atividade nas áreas associadas às suas funções executivas. Os processos cognitivos que permitem às crianças processar e reter informações, resolver problemas e regular comportamentos seriam afetados positivamente, segundo o estudo. Em outras palavras, uma maneira simples de desenvolver certos aspectos da inteligência com a própria música. Incorporadas à vida dos pequenos de forma precoce, tais aulas poderiam inclusive produzir novos talentos musicais.
Referências: goo.gl/P9H6Aj, goo.gl/P9H6Aj, goo.gl/om3wBY