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Efeitos cientificamente comprovados da solidão na estrutura e anatomia cerebral

Pesquisas indicam que a solidão está associada a padrões cerebrais únicos e pode contribuir para problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.

Tatiane Veríssimo por Tatiane Veríssimo
07/05/2024
em Transtornos & Doenças do Cérebro
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As interações sociais são vistas como uma necessidade humana básica, semelhante a outras necessidades fundamentais, tais como a alimentação e o sono¹. Por conta disso, somos programados biologicamente para vivermos em grupos, considerando que fazer parte de um coletivo é fundamental para a nossa sobrevivência. Porém, quando essa necessidade de pertencimento não é atendida, há a manifestação do sentimento de solidão².

Solidão cérebro

De acordo com a literatura, a solidão pode ter evoluído como um estado aversivo, referente ao isolamento percebido, análogo aos outros estados como da fome, da sede e da dor. Sua evolução parece ter a finalidade de proporcionar mudanças comportamentais capazes de aumentar a probabilidade de sobrevivência dos nossos genes².

A solidão é vista como um problema de saúde pública, que se relaciona a problemas de saúde física e mental, além de estar relacionada com declínio cognitivo, suicídio e mortalidade³. Pesquisadores também indicaram que indivíduos solitários tendem a enxergar o mundo de forma mais ameaçadora e interpretam as interações sociais sob uma ótica mais negativa⁴.

Embora exista grande importância sobre tema, ainda há pouca pesquisa sobre os efeitos da privação social no desenvolvimento humano. Um dos motivos levantados na literatura é porque a solidão é um sentimento subjetivo e não um simples resultado de uma privação social, visto que uma pessoa pode se sentir solitária mesmo quando está em uma multidão, ou se sentir bem mesmo quando está só¹.

Apesar das limitações encontradas, houve um aumento do interesse de pesquisas sobre o tema, principalmente durante a pandemia COVID-19. A mudança de rotina sem precedentes e o isolamento social obrigatório enfatizaram ainda mais a importância de compreendermos as necessidades sociais humanas, ampliando o debate sobre o impacto da solidão na nossa saúde⁵.

Mudanças nas regiões cerebrais

Uma revisão sistemática identificou alterações em áreas cerebrais em pessoas solitárias a partir de estudos que utilizaram métodos diversos, dentre eles: tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética estrutural e funcional (RM), eletroencefalografia e tomografia por emissão de pósitrons (PET). Como resultado, os pesquisadores encontraram registros de mudanças nas seguintes regiões⁶:

  1. Córtex pré-frontal. Atua na regulação emocional e no controle inibitório. O córtex pré-frontal dorsolateral participa da atuação na memória de trabalho e na função executiva. Todos os estudos que referenciaram mudança no córtex pré-frontal encontraram associações entre solidão e componentes estruturais, tais como volume da massa cinzenta e integridade da substância branca.
  2. Ínsula. Envolvida em funções cerebrais importantes, tais como emoção, dor e autoconsciência. Em casos de solidão, foi identificado menor volume da massa cinzenta e menor densidade da massa branca na ínsula anterior.
  3. Amígdala. Envolvida na identificação de estímulos, na detecção do medo e no processamento de memórias emocionais. Alguns estudos apontaram associação entre o volume de massa cinzenta e solidão, porém, um estudo de ressonância magnética funcional não identificou resposta da amígdala a estímulos sociais em casos de privação social percebida.
  4. Estriado ventral. Apresenta um papel importante no reforço da recompensa. Um estudo sobre o tema identificou que indivíduos solitários apresentaram uma ativação mais fraca na região quando visualizavam imagens de eventos sociais positivos⁷. Porém, apesar dos achados encontrados, os estudos selecionados na revisão sistemática⁶ não apresentaram resultados semelhantes sobre a relação dessa região com a solidão, reforçando a necessidade de mais estudos.
  5. Córtex temporal superior posterior. Relacionado com a cognição social. Dentre os achados, destaca-se: associação da solidão com menor densidade de massa branca, menor volume da massa cinzenta no sulco superior posterior esquerdo e menor eficiência estrutural no giro temporal superior bilateral.
  6. Hipocampo. Com papel principal sobre a nossa memória, o hipocampo apresentou relação com a solidão a partir da redução do volume de massa cinzenta do hipocampo anterior, principalmente em sujeitos mais velhos, menor eficiência estrutural da massa branca e aumento da resposta hipocampal durante tarefa de privação social.
  7. Cerebelo. Responsável pelo equilíbrio e pela coordenação sensório-motora, alguns estudos identificaram relação dessa área com a solidão. Um dos estudos identificou associação entre solidão e volume da massa cinzenta inferior esquerda. Porém, outro estudo de investigação não obteve o mesmo achado, não encontrando efeitos da solidão no cerebelo.

Mudanças nas redes neurais

Na revisão sistemática sobre o tema, foram identificados estudos que relataram a associação entre solidão e diferenças tanto nas redes atencionais (ventral, dorsal e cingulo-opercular) quanto nas redes visuais. Outros estudos também enfatizaram essas duas redes⁸. Além disso, tais achados corroboram com os resultados sintomatológicos, visto que tais redes parecem estar ligadas à hipervigilância presente nos quadros de solidão⁶.

Considerando os efeitos na rede atencional, presume-se que sujeitos solitários apresentam um viés atencional para pistas sociais (ex: expressões faciais) mais negativas e aversivas que sujeitos não solitários⁸. Outra pesquisa identificou-se que indivíduos solitários apresentavam déficits no processamento de pistas sociais, além de apresentaram baixa habilidade social e de comunicação não verbal⁷.

Outros pesquisadores apontaram que o isolamento em humanos apresenta um efeito semelhante em espécies não humanas que também são sociáveis, tais como: o aumento da sinalização da ameaça, hipervigilância, diminuição do controle inibitório, da imunidade e até mesmo efeitos sobre a qualidade do sono².

Demência e solidão

Um estudo recente indicou que o isolamento social pode aumentar o risco dos quadros demenciais. De acordo com os autores, indivíduos em isolamento apresentaram volume de massa cinzenta menor nas regiões temporal, frontal e no hipocampo. O menor volume de massa cinzenta em casos de isolamento foi associado à subexpressão de genes que apresentam redução de resposta, presentes na doença de Alzheimer, e genes relacionados à disfunção mitocondrial e na fosforilação oxidativa⁹.

Outra pesquisa buscou identificar as associações entre solidão e volumes cerebrais regionais em uma amostra de idosos saudáveis. Os resultados mostraram que sujeitos com níveis mais altos de solidão tendiam a apresentar volumes menores de massa cinzenta na amígdala esquerda, hipocampo, giro parahipocampal posterior, e no cerebelo esquerdo¹⁰. Outros estudos relacionaram a solidão com maior risco à doença de Alzheimer⁴,⁶. Identificou-se que o aumento no nível de solidão foi associado ao aumento da intensidade da massa branca entre idosos sem demência. Além disso, o risco de Doença de Alzheimer foi maior em indivíduos solitários quando comparados aos não solitários⁶.

Estima-se que adultos solitários apresentam 1,64 vezes mais chance de desenvolverem demência quando comparado àqueles que não se auto-relatam como solitários, mesmo após controle de outros fatores, tais como ansiedade e depressão¹¹. Porém, apesar da indicação sobre a relação entre demência e solidão, pesquisas sobre os efeitos da solidão sob os efeitos neurais em idosos saudáveis ainda se mostram muito incipientes¹0.

Plasticidade cerebral e mudanças ambientais

Mudanças ambientais são capazes de moldar estruturas cerebrais, mesmo em cérebros envelhecidos. Evidências recentes indicam que a exposição a ambientes estimulantes apresenta efeitos positivos tanto na estrutura cerebral quanto na neuroquímica das regiões responsáveis pela aprendizagem e memória (ex. hipocampo). Porém, deve-se levar em consideração que as áreas de maior suscetibilidade também são cometidas mais facilmente por consequências negativas, como é o caso da exposição à solidão prolongada e
a privação ambiental¹⁰.

De acordo com pesquisadores, níveis mais altos de estresse, relacionados com a solidão, podem gerar lesões no hipocampo por conta dos altos níveis de glicocorticóides e da pressão arterial. Além disso, considerando questões da neuroplasticidade, a privação das
interações interpessoais pode suscitar no empobrecimento do impulso do hipocampo, podendo levar, portanto, à atrofia dessa região cerebral¹⁰.

Apesar da solidão ser uma preocupação majoritariamente para as faixas etárias mais avançadas, considerando seus riscos à saúde, estudos recentes apontam que jovens adultos estão apresentando níveis mais altos de solidão que idosos⁸, mas que pesquisas sobre esse público ainda são escassas.

Com isso, se faz necessário o compromisso com a redução do sentimento de solidão, a partir da elaboração de políticas públicas de prevenção em saúde¹², a fim de diminuir as consequências negativas do isolamento social percebido no sistema nervoso central, como já documentadas pelos estudiosos da área. Mais estudos multidisciplinares são de suma importância para o avanço do conhecimento científico sobre a ligação entre os sentimentos e seus efeitos no cérebro, evidenciando como o psiquismo se relaciona com nossas estruturas físicas.

Referências e Leitura Complementar:
  1. Orben, A., Tomova, L., & Blakemore, S. J. (2020). The effects of social deprivation on adolescent development and mental health. The Lancet Child & Adolescent Health, 4(8), 634-640. ➞ Ler Artigo
  2. Cacioppo, J. T., Cacioppo, S., & Boomsma, D. I. (2014). Evolutionary mechanisms for loneliness. Cognition & Emotion, 28(1), 3-21. ➞ Ler Artigo
  3. Bu, F., Steptoe, A., & Fancourt, D. (2020). Who is lonely in lockdown? Cross-cohort analyses of predictors of loneliness before and during the COVID-19 pandemic. Public Health, 186, 31-34. ➞ Ler Artigo
  4. Hawkley, L. C., & Cacioppo, J. T. (2010). Loneliness matters: A theoretical and empirical review of consequences and mechanisms. Annals of Behavioral Medicine, 40(2), 218-227. ➞ Ler Artigo
  5. Tomova, L., Wang, K. L., Thompson, T., Matthews, G. A., Takahashi, A., Tye, K. M., & Saxe, R. (2020). Acute social isolation evokes midbrain craving responses similar to hunger. Nature Neuroscience, 23(12), 1597-1605. ➞ Ler Artigo
  6. Lam, J. A., Murray, E. R., Yu, K. E., Ramsey, M., Nguyen, T. T., Mishra, J., … & Lee, E. E. (2021). Neurobiology of loneliness: a systematic review. Neuropsychopharmacology, 46(11), 1873-1887. ➞ Ler Artigo
  7. Kanai, R., Bahrami, B., Duchaine, B., Janik, A., Banissy, M. J., & Rees, G. (2012). Brain structure links loneliness to social perception. Current Biology, 22(20), 1975-1979. ➞ Ler Artigo
  8. Hysing, M., Petrie, K. J., Bøe, T., Lønning, K. J., & Sivertsen, B. (2020). Only the lonely: A study of loneliness among university students in Norway. Clinical Psychology in Europe, 2(1). ➞ Ler Artigo
  9. Shen, C., Rolls, E. T., Cheng, W., Kang, J., Dong, G., Xie, C., … & Feng, J. (2022). Associations of social isolation and loneliness with later dementia. Neurology, 99(2), e164-e175. ➞ Ler Artigo
  10. Düzel, S., Drewelies, J., Gerstorf, D., Demuth, I., Steinhagen-Thiessen, E., Lindenberger, U., & Kühn, S. (2019). Structural brain correlates of loneliness among older adults. Scientific Reports, 9(1), 13569. ➞ Ler Artigo
  11. Spreng, R. N., Dimas, E., Mwilambwe-Tshilobo, L., Dagher, A., Koellinger, P., Nave, G., … & Bzdok, D. (2020). The default network of the human brain is associated with perceived social isolation. Nature Communications, 11(1), 6393. ➞ Ler Artigo
  12. Benke, C., Autenrieth, L. K., Asselmann, E., & Pané-Farré, C. A. (2020). Lockdown, quarantine measures, and social distancing: Associations with depression, anxiety and distress at the beginning of the COVID-19 pandemic among adults from Germany. Psychiatry Research, 293, 113462. ➞ Ler Artigo

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