Você já notou que, às vezes, parece que seu cérebro está te sabotando? Quando você decide começar uma nova rotina saudável, como mudar a alimentação ou fazer exercícios, o primeiro passo pode ser incrivelmente difícil. Isso acontece porque o cérebro, apesar de toda a sua capacidade, tem uma tendência natural a evitar mudanças que exigem muito esforço. Ele foi projetado para economizar energia e, principalmente, para mantê-lo na zona de conforto.
A zona de conforto: por que ela é perigosa?
A zona de conforto é aquele estado mental onde você se sente seguro e sem esforço, mesmo que a situação não seja a ideal. Por exemplo, você pode saber que levantar cedo para caminhar seria benéfico, mas seu cérebro insiste que é mais fácil ficar na cama. Isso acontece porque toda mudança envolve gasto energético, e o cérebro prefere poupar energia sempre que possível.
Do ponto de vista neurocientífico, o cérebro foi moldado ao longo da evolução para economizar recursos. No passado, essa tendência foi crucial para a sobrevivência em tempos de escassez de alimentos e recursos. Hoje, com o conforto da vida moderna, o cérebro ainda mantém esse comportamento conservador, evitando situações que exigem esforço físico ou mental significativo. Quando uma nova rotina envolve esforço, ele automaticamente pesa os custos e decide que “não vale a pena”.
O poder dos hábitos arraigados
Os hábitos são formados a partir de vias neurais que se reforçam com a repetição. Quanto mais você repete um comportamento, mais forte ele se torna no seu cérebro. Isso é ótimo para hábitos saudáveis, mas pode ser um desafio quando se trata de rotinas prejudiciais.
Mudar um hábito antigo requer a criação de novas vias neurais, o que demanda tempo e esforço. O problema é que esses novos comportamentos geralmente não trazem uma recompensa imediata. Por exemplo, quando você começa a praticar exercícios, seu cérebro inicialmente só percebe o esforço e o desconforto. A recompensa, como melhorar sua saúde ou perder peso, vem mais tarde, e o cérebro tende a resistir à ideia quando a recompensa não é imediata.
O dilema da recompensa imediata
Nosso cérebro é programado para buscar recompensas rápidas. Se a recompensa não parecer instantânea ou significativa, ele vai optar pelo caminho de menor resistência. Esse é um dos motivos pelos quais é tão fácil adiar a implementação de uma vida mais saudável. Quando a escolha está entre o esforço de uma caminhada e o conforto de ficar na cama, a escolha natural do cérebro será aquela que exige menos esforço.
O córtex pré-frontal, a área do cérebro responsável pela tomada de decisões e autocontrole, precisa de mais esforço cognitivo para vencer os impulsos do sistema de recompensa de curto prazo. Se o cérebro não enxerga uma recompensa clara, ele economiza energia e opta por não mudar.
Como enganar o cérebro e sair da zona de conforto
Então, como podemos superar essa resistência? A neurociência sugere que pequenos passos são fundamentais. Ao invés de tentar uma mudança radical, comece com pequenos ajustes que não exijam tanto esforço mental. Isso ajuda a evitar que o cérebro ative seu “alarme” de que é algo muito difícil. Ao dar pequenos passos e manter a consistência, o cérebro começa a criar novas vias neurais, gradualmente tornando a mudança mais fácil.
Outra estratégia é associar o novo comportamento a uma recompensa imediata. Por exemplo, se você começar a se exercitar, tente ouvir sua música favorita durante a atividade. Isso cria uma sensação positiva imediata que estimula o cérebro a continuar com o novo hábito.
Em outras palavras, ajude o seu cérebro a te ajudar.
O cérebro precisa de você para romper a zona de conforto
Seu cérebro foi programado para economizar energia, mas isso não significa que ele não possa ser treinado para novas rotinas. Para que ele te ajude a conquistar uma vida mais saudável, o primeiro passo precisa ser seu, mesmo que pequeno. À medida que você avança, o cérebro gradualmente reconhece que o esforço vale a pena.
Em resumo, seu cérebro está sempre pronto para te ajudar, mas às vezes ele só precisa de um empurrãozinho para sair da zona de conforto e abraçar novos hábitos.
Referências
- Duhigg, C. (2012). The Power of Habit: Why We Do What We Do in Life and Business. Random House. https://www.randomhouse.com/book/
- Kahneman, D. (2011). Thinking, Fast and Slow. Farrar, Straus and Giroux. https://us.macmillan.com/books
- Schwabe, L., & Wolf, O. T. (2010). Stress and multiple memory systems: From ‘thinking’ to ‘doing’. Trends in Cognitive Sciences, 14(4), 180-190. https://doi.org/10.1016/j.tics.2010.01.001
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