A atividade física regular é fundamental não apenas para a saúde física, mas também para o desempenho do cérebro e bem-estar mental. Este artigo explora inúmeras maneiras pelas quais a atividade física contribui significativamente para a saúde e estrutura cerebral, apoiadas por pesquisas científicas relevantes.
Confira tópico a tópico, e aproveite as referências para aprofundar ainda mais seus estudos no tema.
1. Promove a neurogênese
O papel da atividade física na promoção da neurogênese, ou a geração de novos neurônios no cérebro, é um campo de pesquisa que tem recebido especial atenção nas últimas décadas. Estudos demonstram que o exercício físico não apenas suporta a saúde geral do cérebro, mas também desempenha um papel crucial na formação de novas células nervosas, especialmente no giro denteado do hipocampo, uma região associada à memória e aprendizado.
A neurogênese induzida pelo exercício é mediada por vários fatores biológicos. Um dos principais mecanismos envolve o aumento na expressão do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), uma proteína que suporta a sobrevivência de neurônios existentes e encoraja o crescimento e a diferenciação de novos neurônios e sinapses. Além do BDNF, o exercício também aumenta a disponibilidade de outros fatores neurotróficos, como o fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1), o fator neurotrófico derivado de células gliais (GDNF), o fator de crescimento nervoso (NGF) e o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), todos fundamentais para a neurogênese e manutenção do tecido cerebral ao longo da vida.
Um estudo pioneiro publicado na Nature Neuroscience em 1999 demonstrou que camundongos com acesso a rodas de corrida apresentaram um aumento significativo na geração de células no hipocampo, sugerindo que a atividade física estimula diretamente a neurogênese. Outras pesquisas em humanos, utilizando imagens de ressonância magnética, corroboraram esses achados, evidenciando que o exercício físico regular está de fato associado ao aumento do volume hipocampal, muito por conta dessa neoneurogênese, implicando em benefícios cognitivos em diversas faixas etárias.
2. Promove a angiogênese
A atividade física é amplamente reconhecida por seus efeitos benéficos para a saúde cardiovascular. Menos discutido, no entanto, é seu impacto significativo na angiogênese cerebral — o processo pelo qual novos vasos sanguíneos se formam a partir dos já existentes. Este processo é crucial para um adequado funcionamento cerebral, pois melhora a circulação e o fornecimento de oxigênio e nutrientes essenciais para o cérebro.
As implicações para a saúde cognitiva e a prevenção de doenças neurodegenerativas são muitas. Vale lembrar que o cérebro é um órgão muito ricamente vascularizado, altamente dependente de uma irrigação contínua e eficiente. Segundo algumas estimativas, estamos falando de aproximadamente 600 km de vasos sanguíneos cerebrais, 100 bilhões de capilares e um órgão que recebe até 20% do débito cardíaco no estado de repouso.
Como vimos no tópico anterior, o exercício físico induz a expressão de fatores de crescimento, como o VEGF e o BDNF. Esses fatores em específico são críticos para a angiogênese, e eles não apenas promovem o crescimento de novos vasos sanguíneos, mas também apoiam a sobrevivência e o crescimento de neurônios, melhorando a plasticidade e a função cerebral.
Estudos em modelos animais e humanos têm demonstrado que o exercício físico regular pode aumentar a densidade capilar no cérebro, melhorando a eficiência do fluxo sanguíneo e a disponibilidade de oxigênio. Pesquisas com roedores mostraram que a corrida voluntária aumenta a expressão de VEGF no hipocampo. Um outro estudo longitudinal com idosos indicou que aqueles que mantiveram um regime regular de exercícios físicos obtiveram benefícios cognitivos correlacionados com o aumento da perfusão cerebral, sugerindo um papel da angiogênese induzida pelo exercício na manutenção da saúde cognitiva na terceira idade.
3. Estimula a neuroplasticidade
A relação entre a atividade física e a estimulação da neuroplasticidade, a capacidade do cérebro de se reorganizar e formar novas conexões neurais ao longo da vida, é um campo de pesquisa vital e em expansão. A plasticidade neural é possível muito por conta dos fenômenos anteriormente discutidos neurogênese e angiogênese, além da liberação de diversos fatores neurotróficos.
A atividade física influencia a neuroplasticidade através de vários mecanismos. Novamente, o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) tem se revelado essencial para o crescimento e a sobrevivência de neurônios, bem como para a formação de novas conexões sinápticas. Além disso, o exercício físico aumenta a expressão de proteínas relacionadas à plasticidade sináptica, como a sinapsina I e a proteína associada ao crescimento axonal GAP-43, promovendo a remodelação e fortalecimento das sinapses.
Outro mecanismo recentemente bastante explorado, muito importante e que ilustra a incrível conexão cérebro-músculo é a liberação de irisina. Esse hormônio produzido pelos músculos em atividade exerce múltiplos efeitos no cérebro, estimulando por exemplo o BDNF e a neuroplasticidade. Há muitas pesquisas em curso sobre as implicações da irisina no manejo de doenças neurodegenerativas.
Diversos estudos em animais e humanos têm demonstrado o impacto positivo do exercício na neuroplasticidade. Por exemplo, pesquisas com roedores mostraram que a corrida voluntária resulta em um aumento significativo na densidade dendrítica no hipocampo, indicando uma maior plasticidade sináptica. Em humanos, estudos de neuroimagem revelaram que o exercício aeróbico regular está associado a aumentos volumétricos de áreas cerebrais chave para a memória e a aprendizagem, como o hipocampo, e a melhorias na função cognitiva.
Um estudo longitudinal notável publicado na revista Neurology demonstrou que indivíduos idosos que se engajam em atividades físicas regulares apresentam uma taxa mais lenta de declínio cognitivo e uma menor incidência de demência, incluindo a doença de Alzheimer. Esse efeito protetor é atribuído, em parte, à capacidade do exercício de promover a neuroplasticidade.
Por fim, a plasticidade neural induzida pelo exercício físico também tem implicações importantes na recuperação de lesões cerebrais. Estudos demonstram que programas de reabilitação que incluem exercício físico podem acelerar a recuperação funcional após lesões cerebrais traumáticas ou eventos cerebrovasculares (AVCs isquêmicos e hemorrágicos), provavelmente devido à sua capacidade já comentada de estimular a reorganização neural e a formação de novas conexões neurais em áreas do cérebro não afetadas.
4. Regula os sistemas de neurotransmissores
A regulação dos sistemas de neurotransmissores é um dos efeitos mais significativos da atividade física sobre o cérebro, influenciando diretamente o humor, a cognição e o bem-estar geral. Várias substâncias químicas cerebrais chave, como a dopamina, serotonina, noradrenalina e endorfinas são positivamente reguladas, revelando-se fundamentais para a saúde mental e o funcionamento cognitivo.
Dopamina. Conhecida como o “neurotransmissor da recompensa”, está envolvida na motivação, prazer, atenção e movimento. Estudos indicam que a atividade física aumenta a disponibilidade de dopamina no cérebro, o que pode melhorar o humor e a motivação, além de potencializar a capacidade de concentração e o aprendizado.
Serotonina. A serotonina influencia uma ampla variedade de funções cerebrais, incluindo o humor, o apetite e o sono. O exercício demonstrou aumentar os níveis cerebrais de serotonina, contribuindo para a sensação de bem-estar e podendo atuar como um antídoto natural contra a depressão e a ansiedade.
Noradrenalina. A noradrenalina atua como um neurotransmissor e hormônio, desempenhando um papel crucial na resposta de “lutar ou fugir” do corpo. A atividade física pode aumentar os níveis de noradrenalina, melhorando a atenção, a vigília e a prontidão, além de ajudar a combater os efeitos do estresse.
Endorfinas. As endorfinas são os analgésicos naturais do corpo, produzidos em resposta ao estresse e à dor. O exercício estimula a liberação de endorfinas, ajudando a aliviar a dor e promovendo uma sensação de euforia e bem-estar, frequentemente referida como o “barato do corredor”.
Estudos de neuroimagem e ensaios clínicos têm fornecido evidências sobre como a atividade física modifica a atividade e a expressão dos neurotransmissores. Por exemplo, pesquisas utilizando PET scans (Tomografia por Emissão de Pósitrons) mostraram alterações na disponibilidade de receptores de dopamina após programas de exercício físico prolongado, correlacionando tais alterações com melhorias no humor e na função cognitiva. Além disso, intervenções de exercício físico têm sido associadas a reduções significativas na sintomatologia depressiva e ansiosa, com alguns estudos sugerindo que os efeitos podem ser comparáveis aos dos antidepressivos, especialmente em casos de depressão leve a moderada.
Incorporar regularmente atividades físicas na rotina diária é, portanto, uma estratégia eficaz também por estimular o equilíbrio químico cerebral.
5. Regula o sono
Uma abordagem natural e eficaz. A prática frequente de atividade física pode ajudar a regular os ciclos de sono, melhorando tanto a qualidade quanto sua duração. Exercícios aeróbicos, em particular, têm sido associados a uma maior eficiência do sono e uma melhor transição entre suas fases.
A atividade física afeta o sono através da regulação de processos biológicos como temperatura corporal, ritmos circadianos e níveis de hormônios como o cortisol e a melatonina. O exercício pode elevar a temperatura corporal central, e a subsequente queda dessa temperatura pode facilitar a iniciação do sono. Além disso, o exercício regular pode ajudar a sincronizar os ritmos circadianos, promovendo um ciclo de sono-vigília mais regular, fisiológico.
Estudos epidemiológicos e experimentais têm fornecido evidências robustas sobre o tema. Um ensaio clínico randomizado publicado no Journal of Clinical Sleep Medicine concluiu que participantes que se engajaram em 150 minutos de exercício aeróbico moderado por semana experimentaram melhorias significativas na qualidade do sono, na capacidade de adormecer mais rapidamente e na redução do uso de medicamentos para dormir.
Além disso, pesquisas indicam que o exercício pode ser particularmente benéfico para pessoas com distúrbios do sono, como insônia e apneia. Indivíduos com insônia crônica que seguem programas de exercícios físicos regulares reduziram significativamente o tempo necessário para adormecer e aumentaram a duração total do sono.
Logo, promover a prática regular de atividades físicas representa uma estratégia de saúde pública capital para melhorar a qualidade do sono na população geral. Isso é particularmente relevante para a sociedade contemporânea, cujos padrões de sono têm sido progressivamente comprometidos por estilos de vida sedentários e exposição à luz artificial.
6. Melhora a eficiência do sistema glinfático
O sistema glinfático, um sistema de limpeza do cérebro que funciona principalmente durante o sono, desempenha um papel crucial na remoção de resíduos metabólicos dos espaços intersticiais cerebrais. Estudos recentes sugerem que a atividade física pode melhorar a eficiência desse sistema, promovendo a saúde cerebral e potencialmente reduzindo o risco de doenças neurodegenerativas.
A atividade física influencia o sistema glinfático de várias maneiras. Primeiramente, o exercício estimula a pulsação arterial, o que pode ajudar a impulsionar a circulação do líquido cefalorraquidiano (LCR), facilitando a remoção mais eficiente de toxinas e resíduos metabólicos, incluindo proteínas β-amiloides associadas à doença de Alzheimer. Além disso, o exercício promove a liberação de vários fatores neurotróficos que podem ter efeitos protetores diretos sobre a integridade e função do tecido cerebral.
Um estudo muito interessante mostrou que em camundongos, a atividade física aumentou a circulação do LCR, promovendo a limpeza de proteínas potencialmente tóxicas. Embora a pesquisa direta em humanos seja mais desafiadora, estudos de neuroimagem e biomarcadores já indicaram efeitos similares, com exercícios físicos regulares associados a uma diminuição nos níveis de proteínas tóxicas no cérebro e uma melhoria na função cognitiva em idosos.
A melhoria na função do sistema glinfático através da atividade física tem implicações significativas para a prevenção de doenças neurodegenerativas e para a manutenção da saúde cerebral ao longo da vida. Ao facilitar a remoção de toxinas do cérebro, o exercício físico pode então ajudar a reduzir o risco ou retardar a progressão de doenças como Alzheimer e Parkinson, além de promover uma recuperação neural mais eficiente após lesões cerebrais.
7. Melhora a memória e aprendizagem
A relação positiva entre atividade física, memória e aprendizagem é amplamente documentada na literatura científica, destacando-se como um dos benefícios cognitivos mais significativos da prática de exercício físico regular. Esse fenômeno é explicado por vários mecanismos biológicos e psicológicos, muitos deles já citados nos tópicos anteriores (BDNF, IGF-1, VEGF etc) que trabalham em conjunto para potencializar a estrutura e a função cerebral.
Em 2007, Winter e colaboradores descobriram que o exercício aeróbico não apenas melhora a função cognitiva em indivíduos idosos, mas também em jovens adultos, sugerindo que os benefícios do exercício para a memória e aprendizagem são universais, independentemente da idade.
Um estudo pioneiro de Erickson e colaboradores em 2011 demonstrou que adultos mais velhos que participaram de um programa de exercícios aeróbicos por um ano experimentaram um aumento no volume do hipocampo, acompanhado de melhorias na memória espacial. Este achado foi particularmente relevante, pois o hipocampo é uma das primeiras regiões cerebrais afetadas no declínio cognitivo relacionado à idade e na doença de Alzheimer.
Também uma revisão sistemática brasileira de 2020 corroborou isso, identificando que atividade e aptidão físicas estiveram positivamente associadas ao desempenho acadêmico de adolescentes. Em mais de 80% dos estudos analisados, a associação foi considerada forte. O componente da aptidão física mais frequentemente associado ao desempenho acadêmico foi a aptidão cardiorrespiratória.
O entendimento geral é de que a atividade física representa uma estratégia poderosa para melhorar a memória e a aprendizagem, a partir de um corpo robusto de evidências científicas apoiando seu papel na promoção da saúde cerebral. A incorporação de exercícios físicos regulares na rotina diária pode fornecer benefícios tanto imediatos como de longo prazo para a cognição.
8. Melhora o foco e atenção
Outro benefício bastante relevante na sociedade atual é o aprimoramento da memória de trabalho e da capacidade de concentração provocado pela atividade física. Um dos mecanismos envolve o estímulo à liberação de neurotransmissores, como a dopamina e norepinefrina, cruciais para a atenção e foco.
Um estudo conduzido por Guiney e Machado em 2013 concluiu que a atividade física regular está associada a melhorias significativas na função executiva, especialmente em tarefas que exigem atenção sustentada e memória de trabalho. Este achado é particularmente relevante, pois a função executiva é crucial para o desempenho acadêmico, profissional e para a gestão eficaz das atividades diárias.
Além disso, alguns estudos vem sugerindo que mesmo exercícios de curta duração e de baixa intensidade podem ter efeitos imediatos sobre a atenção e a concentração. Um deles, publicado no Journal of Clinical and Experimental Neuropsychology, revelou que uma única sessão de exercício físico aeróbico moderado pode melhorar significativamente o desempenho em tarefas de atenção e velocidade de processamento, sugerindo que os benefícios do exercício para a cognição podem ser obtidos rapidamente. Em 2023, Kuwamizu e colaboradores sugeriram que esses efeitos cognitivos agudos proporcionados pela atividade física podem estar relacionados à ativação do locus coeruleus e a uma maior estimulação noradrenérgica, com subsequente ativação do córtex pré-frontal e do funcionamento executivo.
Os efeitos da atividade física na atenção e na memória de trabalho têm implicações especialmente importantes para a educação e a saúde mental. Programas de exercícios físicos integrados ao ambiente escolar podem melhorar a capacidade de atenção dos estudantes, potencialmente levando a um melhor desempenho acadêmico. Além disso, para indivíduos com déficits atencionais, como o TDAH, o exercício físico pode ser uma estratégia complementar valiosa, ajudando a melhorar a concentração e a reduzir a hiperatividade.
9. Protege contra a neurodegeneração
A atividade física pode aumentar a reserva cognitiva e retardar o declínio cognitivo, oferecendo proteção contra doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson. A prática regular de exercícios físicos promove a liberação de fatores neurotróficos, como o BDNF, que apoia a sobrevivência de neurônios existentes e promove o crescimento e a diferenciação de novas células nervosas e sinapses. Isso não apenas ajuda a manter a função cognitiva, mas também aumenta a reserva cognitiva, proporcionando ao cérebro uma maior capacidade de tolerar patologias sem manifestar sintomas de declínio cognitivo. Além disso, os exercícios físicos reduzem a inflamação sistêmica e o estresse oxidativo, dois fatores que contribuem significativamente para o desenvolvimento dessas condições. Ao se opor a tais processos patológicos, a atividade física ajuda a proteger o cérebro contra o dano e a perda funcional.
Vários estudos epidemiológicos e experimentais já demonstraram consistentemente que indivíduos que se engajam na prática de atividade física regular têm um risco significativamente menor de desenvolver doenças neurodegenerativas. Um estudo longitudinal com mais de 1500 indivíduos idosos descobriu que aqueles que participaram de atividades físicas regulares apresentaram uma taxa significativamente menor de declínio cognitivo e menor risco de desenvolver Alzheimer comparados àqueles com estilos de vida sedentários. Além disso, revisões sistemáticas e metanálises confirmam que a atividade física é associada a melhorias na função cognitiva de idosos, potencialmente reduzindo tanto a sintomatologia já instalada como também atuando preventivamente, reduzindo o risco de declínio cognitivo e demência.
Por fim, citamos uma revisão sistemática de 2021, conduzida por Domingos, Pêgo, & Santos, cuja análise confirmou que a atividade física regular tem efeitos protetores contra a atrofia cerebral e lesões na substância branca, em áreas especialmente sensíveis para as demências.
10. Estimula a criatividade
A prática de atividades físicas pode melhorar a criatividade, fornecendo novas ideias e soluções. A melhoria no fluxo sanguíneo cerebral para áreas frontais anteriores e a redução do estresse são fatores que parecem estar associados a esses efeitos.
Estudos têm mostrado que pessoas que se engajam regularmente em atividade física tendem a ter melhor desempenho em testes de criatividade do que aquelas que levam um estilo de vida sedentário. Um estudo publicado no Journal of Experimental Psychology sugere que caminhadas regulares podem melhorar significativamente o desempenho em tarefas que exigem pensamento criativo divergente, um tipo de pensamento que envolve a geração de múltiplas soluções para um problema.
Um experimento controlado, descrito no Frontiers in Human Neuroscience, investigou o impacto de exercícios aeróbicos em jovens adultos e descobriu que aqueles que participaram de sessões regulares de exercício mostraram melhorias na fluência criativa e na flexibilidade cognitiva. A fluência criativa refere-se à capacidade de gerar muitas ideias, enquanto a flexibilidade cognitiva é a habilidade de alternar entre diferentes conceitos ou perspectivas.
11. Melhora a tomada de decisão
Exercícios regulares podem melhorar as funções executivas, incluindo a tomada de decisões, planejamento e resolução de problemas, por meio do fortalecimento da conectividade neural e da saúde geral do cérebro.
Estudos demonstram que indivíduos que se engajam regularmente em atividade física têm melhor desempenho em tarefas que requerem funções executivas complexas, incluindo a tomada de decisões e o planejamento. Por exemplo, uma pesquisa publicada no British Journal of Sports Medicine encontrou uma associação positiva entre a atividade física regular e a melhoria na função executiva em adultos mais velhos, o que implica uma tomada de decisão mais eficaz.
Outra pesquisa, focada em jovens adultos, reportou que a prática de exercícios aeróbicos estava relacionada a uma melhor capacidade de tomada de decisões, evidenciada por tempos de resposta mais rápidos e maior precisão em tarefas cognitivas complexas. Esses achados sugerem que a atividade física pode ser particularmente benéfica para melhorar os processos cognitivos envolvidos na tomada de decisões em diferentes faixas etárias.
12. Regula o humor
O impacto da atividade física na regulação do humor, abordando especificamente a ansiedade, depressão e outros transtornos envolvidos, é um campo de estudo bem estabelecido na psicologia e na medicina do esporte. A eficácia do exercício como uma intervenção não farmacológica para melhorar o humor e reduzir os sintomas de transtornos de humor tem sido amplamente documentada.
A atividade física afeta a regulação do humor através de vários mecanismos biológicos e psicológicos. Biologicamente, o exercício estimula a liberação de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, que são cruciais para o humor e a sensação de bem-estar. Além disso, o exercício reduz os níveis de hormônios do estresse, como cortisol, e aumenta a produção de endorfinas, muitas vezes referidas como os “hormônios da felicidade”, que podem aliviar a dor e promover uma sensação de euforia.
Estudos têm consistentemente mostrado que a atividade física regular pode ter efeitos antidepressivos e ansiolíticos significativos. Por exemplo, uma meta-análise publicada na American Journal of Psychiatry analisou dados de múltiplos estudos e concluiu que o exercício físico é eficaz na redução dos sintomas de depressão, comparável em alguns casos ao tratamento com antidepressivos ou terapia psicológica.
Outro estudo, publicado no Journal of Anxiety Disorders, demonstrou que a atividade física regular pode significativamente reduzir os sintomas de ansiedade em indivíduos com transtornos de ansiedade. O exercício aeróbico, em particular, foi identificado como uma intervenção eficaz para melhorar a saúde mental e o bem-estar.
Essas descobertas têm implicações importantes para o tratamento e a prevenção de transtornos de humor. A inclusão de programas de atividade física como parte de um plano de tratamento holístico pode oferecer aos pacientes uma estratégia eficaz para gerenciar seus sintomas, com o benefício adicional de melhorar a saúde física geral.
13. Combate a ruminação
O exercício pode desviar a atenção de pensamentos negativos, uma prática comum na ruminação, e promover estados de mindfulness, reduzindo assim o ciclo de pensamentos negativos persistentes.
Um estudo publicado no Journal of Sport and Exercise Psychology revelou que a participação regular em atividade física está associada a níveis reduzidos de ruminação e sintomas depressivos. A pesquisa sugeriu que o exercício pode atuar como uma intervenção não farmacológica eficaz para reduzir pensamentos obsessivos relacionados à depressão.
Adicionalmente, uma meta-análise no American Journal of Psychiatry concluiu que o exercício aeróbico, especialmente de intensidade moderada, é particularmente eficaz na diminuição da ruminação. Os autores destacaram que a regularidade e a consistência do exercício são cruciais para obter benefícios significativos na saúde mental.
14. Aumenta a resiliência ao estresse e trauma
A incorporação da atividade física como uma estratégia de enfrentamento pode aumentar a resiliência ao estresse e ao trauma, promovendo uma recuperação mais rápida e eficaz. Além de seus benefícios físicos, o exercício oferece um suporte vital para a saúde mental, contribuindo para uma maior capacidade de lidar com desafios emocionais e psicológicos.
Um estudo publicado no Journal of Neuroscience encontrou que ratos submetidos a corridas voluntárias em rodas demonstraram uma menor ativação da amígdala em resposta a estressores, sugerindo que o exercício pode ajudar a reduzir a sensibilidade ao estresse. Pesquisas em humanos também apoiam a ideia de que a atividade física regular está associada a uma melhor regulação emocional e menor reatividade ao estresse. Por exemplo, um estudo longitudinal com veteranos militares mostrou que aqueles que mantinham uma rotina de exercícios apresentavam sintomas significativamente menores de TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático) em comparação com seus pares menos ativos.
O exercício físico também tem sido estudado como um componente terapêutico no tratamento de transtornos de estresse pós-traumático. Programas de exercício estruturado podem oferecer benefícios significativos, ajudando indivíduos a recuperar de traumas ao melhorar a autoeficácia, reduzir sintomas de hipervigilância e promover a sensação de normalidade e rotina.
15. Influencia positivamente a personalidade
Exercícios podem influenciar positivamente vários aspectos da personalidade, incluindo a redução da neuroticismo e o aumento da extroversão, abertura à experiência e conscientização.
A relação entre atividade física e mudanças na personalidade tem sido objeto de numerosos estudos científicos, revelando que o exercício regular pode ter efeitos significativos em vários traços de personalidade. A personalidade, definida por características estáveis de longo prazo em comportamento, pensamento e emoção, é influenciada positivamente pela atividade física de várias maneiras importantes.
Um aspecto chave é a redução do neuroticismo, um traço de personalidade associado a emoções negativas como ansiedade, depressão e irritabilidade. Um estudo longitudinal publicado na Journal of Research in Personality observou que indivíduos que se engajam regularmente em atividade física demonstram uma diminuição significativa no neuroticismo ao longo do tempo. Essa mudança pode ser atribuída à capacidade do exercício de melhorar o humor e reduzir o estresse, contribuindo para uma visão mais positiva da vida e um melhor controle emocional.
Além disso, a atividade física tem sido associada ao aumento da extroversão. A extroversão, que descreve níveis de sociabilidade, assertividade e entusiasmo, parece ser reforçada pelo engajamento regular em atividades físicas. Isso pode ser devido às oportunidades de interação social que o exercício frequentemente proporciona, como em esportes coletivos ou grupos de exercício, além do aumento da autoestima e confiança resultantes do melhor condicionamento físico.
Um estudo publicado na Health Psychology mostrou que participantes envolvidos em programas de exercício físico regular não apenas apresentaram melhorias na saúde física, mas também demonstraram maior abertura a experiências novas, uma característica ligada à criatividade e curiosidade. Isso sugere que o exercício pode estimular o desejo e a capacidade de explorar novos interesses e ideias.
Por fim, a conscienciosidade, que envolve autodisciplina, organização e dependabilidade, também pode ser fortalecida através do exercício regular. A disciplina requerida para manter uma rotina de exercícios pode transbordar para outros aspectos da vida, promovendo uma abordagem mais metódica e responsável em tarefas diárias e compromissos.
Referências e Leitura Complementar:
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Muito obrigado pelo feedback Débora!
Artigo TOP! Obrigada!!!