O consumo excessivo de açúcar, especialmente o açúcar adicionado aos alimentos, tem se tornado uma preocupação de saúde pública em muitas partes do mundo, com implicações que vão além do ganho de peso e problemas metabólicos: há evidências de que o excesso de açúcar prejudica o cérebro por vários mecanismos.
Este artigo explora os alguns desses efeitos prejudiciais do açúcar no cérebro, apoiado por evidências científicas recentes.
1. Impacto no neurodesenvolvimento
Crianças e adolescentes são particularmente vulneráveis aos efeitos negativos do consumo excessivo de açúcar. De acordo com um estudo publicado na Pediatrics (2019), dietas com alto teor de açúcar podem não apenas afetar adversamente o desenvolvimento cognitivo nesta fase crucial, mas também levar a alterações comportamentais e de humor, impactando o desempenho escolar e as relações sociais.
2. Risco de depressão e ansiedade
A relação entre açúcar e saúde mental tem sido objeto de várias investigações científicas. Um estudo longitudinal publicado no Scientific Reports (2017) concluiu que homens que consumiam grandes quantidades de açúcar tinham um risco 23% maior de desenvolver um transtorno de humor, como depressão ou ansiedade, em comparação com aqueles que consumiam menos açúcar. Embora os mecanismos exatos ainda estejam sendo estudados, suspeita-se que as flutuações nos níveis de glicose e a inflamação sistêmica desempenhem papéis críticos.
3. Alterações cognitivas e de memória
Estudos têm mostrado que uma alta ingestão de açúcar pode levar a uma variedade de problemas cognitivos. Segundo uma pesquisa publicada no Journal of Neuroinflammation (2019), dietas ricas em frutose, um tipo de açúcar, podem causar uma inflamação significativa no cérebro, particularmente no hipocampo, a região envolvida na memória e aprendizado. Esta inflamação pode resultar em deterioração da memória e diminuição da capacidade de aprendizado.
Um estudo publicado no periódico científico Neurology buscou identificar se o açúcar teve efeito prejudicial à mente mesmo em pessoas saudáveis. Para isso, pesquisadores do Centro Médico da Universidade Charité, em Berlim, acompanharam 141 adultos saudáveis não diabéticos. Os participantes realizaram testes de memória e passaram por exames de imagem para avaliar o hipocampo.
Níveis elevados de glicose foram associados com problemas de memória e redução e comprometimento da estrutura cerebral. Cientistas também descobriram que as alterações foram parcialmente responsáveis pela associação estatística entre glicose e memória. Segundo a neurologista Agnes Flöel, coautora do estudo, os resultados “fornecem mais evidências de que o açúcar pode contribuir diretamente para a atrofia do hipocampo”.
Os resultados das pesquisas indicaram que, mesmo na ausência de diabetes ou nos casos de intolerância à glicose, excesso de açúcar no sangue pode danificar o cérebro e interromper funções da memória.
4. Neurodegeneração e Alzheimer
Pesquisas adicionais sugerem que o impacto do açúcar no cérebro pode ser de longo prazo. Um estudo realizado pela Alzheimer’s Association (2018) identificou uma correlação entre dietas ricas em açúcar e um aumento no risco de desenvolver Alzheimer, uma forma de demência que afeta milhões globalmente. Os pesquisadores teorizam que as altas ingestões de açúcar exacerbam os processos de glicação avançada e aumentam a produção de produtos finais de glicação avançada (AGEs), que são compostos tóxicos para as células cerebrais.
5. Dependência química e vício em açúcar
O açúcar pode ter efeitos viciantes comparáveis aos de substâncias como a nicotina, como indicado por uma revisão no British Journal of Sports Medicine (2018). O consumo de açúcar libera dopamina no cérebro, um neurotransmissor associado ao prazer. A liberação repetida de dopamina pode levar a uma necessidade crescente de consumir ainda mais açúcar, criando um ciclo vicioso que pode ser difícil de quebrar.
Como minimizar esse risco?
Resumidamente, redução e gestão do consumo de açúcar. Considerando os extensivos danos que o açúcar pode causar ao cérebro, é vital reduzir o consumo. Estratégias eficazes mais objetivas incluem:
- Ler rótulos de produtos para identificar e evitar açúcares adicionados.
- Substituir bebidas açucaradas por água ou infusões sem açúcar.
- Optar por frutas inteiras ao invés de sucos ou snacks açucarados.
- Incorporar mais proteínas e gorduras saudáveis na dieta, que podem ajudar a regular os níveis de açúcar no sangue e reduzir os desejos.
Conclusão
O impacto do consumo excessivo de açúcar no cérebro é profundo e multifacetado, afetando tudo desde a capacidade cognitiva até a saúde mental. A crescente base de evidências sugere que limitar a ingestão de açúcar não é apenas benéfico para a saúde física, mas também essencial para manter a saúde cerebral ótima e prevenir distúrbios neurológicos e psicológicos a longo prazo.
Fonte: (1) e (2) imagem retirada da Gazeta do Povo