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Felicidade e depressão podem passar dos pais para os filhos? Confira o que a neurociência tem a dizer sobre o assunto

Talvez sua mãe tenha sido diagnosticada com depressão. Ou seu pai tenha o humor mais deprimido. Observar um membro da família sofrendo de depressão pode ser difícil. Mas isso significa que você também terá o transtorno? E no caso da felicidade, ela pode ser transmitida através dos genes, geração por geração?

Carlos Henrique por Carlos Henrique
29/01/2024
em Cérebro Emocional
A A
1

Para muitas pessoas, essa pergunta pode ser a chave para desenvolver uma humanidade plenamente feliz. Claramente, boa parte da personalidade, da resiliência e de todas as outras características mentais de cada pessoa vêm da sua criação e de experiências acumuladas ao longo da vida. Vamos crescendo e nos moldando de acordo com o meio em que vivemos (e a relação com os pais é uma peça fundamental disso). Isso naturalmente torna possível que uma criança (que conviva com pais que tenham sintomas depressivos) fique mais propensa a desenvolver depressão. Contudo, o que um estudo recente publicado na revista Nature revela é que essa depressão também tem uma parte genética passível de ser transmitida.

Felicidade e genética

Já é de conhecimento científico que, dos determinantes possíveis para a felicidade (tanto exógenos quanto endógenos), a genética parece ser o mais importante, contribuindo com até 50% da resposta da prole. Em outras palavras, ter pais biológicos que se consideram felizes dá aos filhos uma chance de 1 em 2 de também se sentirem felizes ao longo da vida e o mesmo pode acontecer com a infelicidade. Não há uma explicação exata de por que isso ocorre, mas provavelmente se relaciona a circuitarias neuronais específicas no cérebro além da produção maior ou menor de neurotransmissores e seus respectivos receptores. Porém, considerando que a depressão em si é uma entidade clínica à parte, não simplesmente definida por “infelicidade”, fica a dúvida se o mesmo mecanismo seria capaz de aumentar o risco da “transmissão” desse transtorno dos pais para os filhos.

Ao contrário do que se imaginava até alguns anos atrás, a genética não é uma “programação fixa” para o desenvolvimento de um ser vivo. Ela sofre influências do meio constantemente através de alterações do DNA e das histonas que interferem na expressão (atividade) dos genes sem alterar a sua sequência de bases nitrogenadas – processo esse chamado de epigenética. E, ainda mais na contramão do que se imaginava, os gametas de uma pessoa também respondem aos estímulos recebidos do meio.

O estudo

No estudo, realizado por Isabelle Mansuy da Universidade de Zurique, na Suíça, e seus colegas, os pesquisadores separaram as fêmeas de camundongo de sua prole diariamente e as submeteram a situações estressantes. Isso era feito em horários aleatórios para evitar que as mães compensassem a situação estressante a seus filhotes com carinhos extras (prevendo o horário em que seriam separadas deles).

O que os cientistas observaram foi que os machos dessa geração de filhotes, uma vez crescidos, apresentavam comportamentos depressivos. Até aí, pode-se atribuir isso ao estresse da separação mãe-filhote, mas observou-se também que esses machos apresentavam níveis aumentados de 5 tipos de microRNA (envolvidos na regulação da expressão gênica) em seus espermatozóides quando adultos. Os filhotes que esses machos tiveram posteriormente apresentavam os mesmos sintomas depressivos e, assim como seus pais, apresentavam níveis aumentados dos mesmos 5 microRNA no sangue e no hipocampo (região do cérebro responsável pela memória e também em respostas emocionais). Os sintomas depressivos persistiram em ainda mais uma nova geração de filhotes.

Desse experimento, pode-se tentar justificar as conclusões com base no estresse causado pelo trauma da separação e que, de alguma forma, poderia ter sido passado por meios comportamentais às gerações seguintes de camundongos. Para eliminar por completo a influência social nesses testes os pesquisadores seguiram por uma nova etapa: injetaram os microRNA da primeira geração de machos depressivos em óvulos não-fecundados de fêmeas que não passaram por qualquer tipo de trauma. E qual foi o resultado? Os filhotes nasceram com sintomas depressivos e a geração seguinte, também.

Ainda não se sabe bem como o estresse estaria afetando esses gametas. A hipótese sugerida é que os hormônios do estresse, em especial os glicocorticóides, estariam estimulando a expressão dos microRNA ao atuarem sobre os espermatozóides. Um desses microRNA, o miR-375, está particularmente associado ao estresse e a defeitos metabólicos. Além disso, não se sabe como os comportamentos depressivos se perpetuam em gerações seguintes: apesar da expressão aumentada dos microRNA nos espermatozóides na primeira geração de machos afetados, isso não foi observado nos gametas das duas gerações seguintes (que, ainda assim, apresentavam sintomas de Depressão). Acredita-se que isso possa estar ocorrendo através de outros mecanismos epigenéticos.

E há solução?

Uma pergunta natural que vem após essas conclusões é: “Se a depressão tem componentes genéticos e a felicidade também, seria possível fazer o caminho contrário para que as próximas gerações fossem mais felizes?”

Ainda não há evidências suficientes mostrando que se sentir feliz gera os mesmos efeitos epigenéticos do trauma e da depressão. Percebe-se que outros tipos de microRNA estão relacionados a alterações na produção e no efeito da serotonina, um dos principais neurotransmissores cuja deficiência relativa ou absoluta favorece o surgimento da depressão. Tanto que a indústria farmacológica tem estudado formas de usar os microRNA diretamente como medicamentos ao invés os antidepressivos moduladores que temos atualmente.

Outro ponto importante de lembrar é que a felicidade, apesar da forte carga genética que possui, é passível de ser treinada. Existem estudos feitos com protocolos de treinamento de felicidade e em uma revisão sistemática do assunto, acredite, 96% das pesquisas mostraram que os treinamentos funcionavam. Isso, porém, não invertia a balança por completo, já que o efeito de melhora mesmo com os treinamentos, conforme percebido pelos voluntários, era de apenas 5%. Mesmo assim, esse tipo de evidência sinaliza para o fato de que é possível melhorar o nível de felicidade de uma pessoa e, hipoteticamente, já que a depressão pode ser passada de pai para filho, a felicidade provavelmente também pode.

Conclusão

No fim das contas, podemos dizer que, sim, a depressão passa de pai pra filho, literalmente (pelo menos em camundongos). O próximo passo são estudos em humanos que passaram por experiências traumáticas e seus filhos para identificar se as mesmas alterações epigenéticas estarão presentes. Se isso for observado, esse conhecimento poderia permitir medidas preventivas através da avaliação da suscetibilidade de um individuo ao estresse e a propensão ao desenvolvimento de transtornos psiquiátricos.

Além disso, as pesquisas apresentadas trazem luz a dois fatos importantes: é possível alterar nossa genética, até mesmo no quesito emocional, de acordo com nossas escolhas e experiências de vida; e também é possível que essas alterações sejam passadas para as próximas gerações, potencialmente acumulando efeitos positivos ou deletérios. 

Logo, não só no que tange à saúde física, mas também a mental, frente ao mundo tão acelerado e distante em que vivemos, é importante o autocuidado e a busca por estilos de vida saudável. Não só cada um de nós pode ser afetado/a por isso, mas as gerações futuras também, sendo possível com isso estimular mais felicidade ou mais infelicidade a depender das escolhas de hoje.

Referências e Leitura Complementar:
  1. Bergsma, A., Buijt, I., & Veenhoven, R. (2020). Will happiness-trainings make us happier? A research synthesis using an online findings-archive. Frontiers in Psychology, 11, 1953. ➞ Ler Artigo
  2. O’connor, R. M., Dinan, T. G., & Cryan, J. F. (2012). Little things on which happiness depends: microRNAs as novel therapeutic targets for the treatment of anxiety and depression. Molecular Psychiatry, 17(4), 359-376. ➞ Ler Artigo
  3. McKibben, L. A., & Dwivedi, Y. (2021). MicroRNA Regulates Early-Life Stress–Induced Depressive Behavior via Serotonin Signaling in a Sex-Dependent Manner in the Prefrontal Cortex of Rats. Biological Psychiatry Global Open Science, 1(3), 180-189. ➞ Ler Artigo
  4. Dfarhud, D., Malmir, M., & Khanahmadi, M. (2014). Happiness & health: the biological factors-systematic review article. Iranian Journal of Public Health, 43(11), 1468. ➞ Ler Artigo
  5. Gapp, K., Jawaid, A., Sarkies, P., Bohacek, J., Pelczar, P., Prados, J., … & Mansuy, I. M. (2014). Implication of sperm RNAs in transgenerational inheritance of the effects of early trauma in mice. Nature Neuroscience, 17(5), 667-669. ➞ Ler Artigo

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Comentários 1

  1. Maria Fernanda Rigotti says:
    1 ano atrás

    Muito interessante!!! Mas como é intrínseca ainda a confusão de divisão de depressão x infelicidade. Porque na pergunta do texto: “se a depressão tem componentes genéticos e a felicidade também, seria possível fazer o caminho contrário para que as próximas gerações fossem mais felizes?”, me incomoda um pouco, mesmo com a tentativa de definição de divisão entre as duas, o foco seria no caminho para pessoas não-depressivas, porque a infelicidade é um fenômeno importante para a evolução pessoal, o enfrentamento dos infortúnios é parte da vida – comento isso, porque alguns textos que li relacionados a alguns problemas do homem pós-moderno é, inclusive, o excesso de positividade.
    Não é uma crítica ao texto, é só uma reflexão minha pessoal mesmo.

    Responder

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