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Habilidades emocionais, inteligência emocional e sua relação com os traços de personalidade

O desenvolvimento das habilidades de inteligência emocional beneficia diversos setores da vida do indivíduo, aumentando sua taxa de sucesso social. Confira detalhes sobre a inteligência emocional, suas habilidades e a relação com aspectos da personalidade.

Tatiane Veríssimo por Tatiane Veríssimo
01/04/2024
em Cérebro Emocional
A A
3

Consideramos ‘inteligência emocional’ (IE) um conceito abrangente, que engloba aspectos cognitivos e sociais das emoções¹.  Em outras palavras, a inteligência emocional consiste na percepção, regulação, compreensão e gerenciamento das emoções de maneira funcional e adaptativa². 

A alexitimia, no entanto, é um termo que se traduz como “sem palavras para emoções”. Tal condição envolve a dificuldade de identificação e expressão das emoções, sendo, portanto, associada a diversos transtornos mentais². 

Inteligência emocional e abordagem psicométrica 

Um estudo identificou que sistemas de IE compartilharam redes associadas a dois subtipos de inteligência: compreensão verbal e velocidade de processamento³. Em consonância, outro estudo apontou que indivíduos com pontuações baixas nos testes verbais de avaliação de QI parecem apresentar pontuações mais altas em casos de alexitimia (dificuldade na identificação das emoções)².

Danos aos centros de linguagem cerebral, como lesões no lobo temporal e no giro frontal inferior, estão associados a alexitimia adquirida², enquanto déficits na velocidade de processamento se relacionam com danos nas regiões frontais e parietais³. 

Traços de personalidade e inteligência emocional 

Poucos estudos foram realizados associando a inteligência emocional aos traços de personalidade. Considerando o modelo Big Five, temos cinco fatores de personalidade: neuroticismo, extroversão, abertura à experiência, socialização e consciência (ver artigo).

Análises de regressão indicaram que apenas o fator ‘consciência’ (ou realização) previu índices de IE³. O fator consciência de personalidade envolve a capacidade do sujeito em resolver problemas³ e seu senso de auto-eficácia⁵.

A figura abaixo indica o mapa de lesões das regiões cerebrais envolvidas na IE (em azul) e no fator de personalidade consciência (amarelo). Áreas que são relacionadas tanto na IE quanto no fator consciência se apresentam em verde.

image 1
Mapeamento de lesões cerebrais (Barbey, Colom & Grafman, 2014).

Uma revisão sistemática sobre transtornos afetivos e personalidade corroborou com o achado. Os pesquisadores identificaram o fator ‘consciência’ como protetivo, ou seja, foi negativamente associado aos transtornos afetivos⁵.

As áreas corticais envolvidas no fator consciência são: córtex pré-frontal dorsolateral direito, córtex orbitofrontal esquerdo e junção temporoparietal esquerda. O córtex orbitofrontal esquerdo também está envolvido na IE, sendo uma região associada à cognição emocional e social³.

No entanto, vale ressaltar que os achados referentes a IE ainda são inconsistentes. Estudos de neuroimagem apresentaram divergências sobre as áreas cerebrais envolvidas na IE. Pesquisadores da área indicam que as ferramentas de avaliação da IE apresentam validades controversas, o que dificulta sua definição clara e, portanto, sua medição nos estudos⁷. 

Habilidades da Inteligência Emocional 

1. Consciência emocional

A consciência emocional é uma habilidade referente ao reconhecimento das nossas próprias emoções. Estudos indicam que pacientes com lesões na ínsula anterior apresentam altos níveis de alexitimia, sendo, portanto, uma área importante para o desenvolvimento dessa habilidade⁷.

Além do papel da ínsula, o córtex cingulado anterior também participa do processo emocional. Estudos apontam que a atividade conjunta dessas regiões promove a criação das experiências emocionais subjetivas⁷ através da criação dos significados e das narrativas⁸.

O córtex pré-frontal ventromedial também desempenha seu papel na consciência emocional: sujeitos com lesões nessa região demonstraram redução no arrependimento após tomarem decisões ruins, além da redução da intensidade emocional⁷. 

2. Empatia e comportamento pró-social

O reconhecimento emocional não necessariamente desencadeará a empatia. A empatia é responsável por proporcionar o comportamento pró-social voltado para a ajuda ao próximo. Sua redução foi encontrada em sujeitos com lesão no córtex pré-frontal ventrolateral e em lesões na ínsula⁷. 

3. Memória emocional

Estudos indicam que memórias vinculadas a eventos emocionais são menos suscetíveis a serem esquecidas quando comparadas às memórias formadas em eventos neutros. A memória emocional engloba as regiões do lobo temporal medial. Além disso, pacientes com lesões na amígdala apresentam dificuldade em consolidar lembranças emocionais referentes às características dos outros, tais como simpatia e confiança⁷. 

4. Teoria da mente

A teoria da mente baseia-se na capacidade do sujeito em interpretar como o outro deve estar se sentindo a partir da leitura comportamental e contextual. Tal habilidade parece prejudicada em casos de lesões do córtex frontal ventrolateral, no qual sujeitos apresentam dificuldade em perceber quando um comportamento foi inapropriado em um contexto social⁷. 

5. Regulação emocional

A regulação emocional é um componente muito estudado dentro da IE, sendo importante para a promoção de saúde mental²,⁷. Seu precursor envolve a identificação das próprias emoções².

Assim como nas outras habilidades da IE, sujeitos com lesões do córtex pré-frontal ventrolateral apresentam maior desregulação emocional, ou seja, manifestam dificuldade de atenuação de respostas emocionais, mesmo ao longo do tempo⁷.

Para nos regularmos emocionalmente, possuímos estratégias tanto comportamentais (ex: resolução de problemas e enfrentamento) quanto cognitivas (ex: restruturação dos pensamentos). Sendo assim, sujeitos com dificuldade em nomear as emoções podem apresentar maior dificuldade em se autorregular².

Técnica de reestruturação cognitiva

A reestruturação cognitiva é uma técnica que se baseia no reconhecimento dos pensamentos automáticos e na contestação dos mesmos, a partir da criação de pensamentos alternativos mais realistas para a interpretação das situações⁶.

Durante a restruturação cognitiva, a ativação do córtex pré-frontal medial associa-se com a diminuição da ativação da amígdala e, consequentemente, com a redução da intensidade do afeto negativo. O córtex orbitofrontal (OFC) é responsável por coordenar as interações entre essas áreas. A figura abaixo apresenta as áreas associadas no circuito da regulação emocional⁸:

image
Circuito da regulação emocional (Compare et al., 2014). 

Ruminação e (des)regulação emocional

O processo de ruminação é uma técnica desadaptativa, caracterizado por pensamentos repetitivos de tendência negativa no qual sua manutenção apresenta efeitos negativos na saúde mental, tal como quadros depressivos⁸. É uma tentativa do sujeito em lidar com situações que desencadeiam emoções desagradáveis.

De acordo com os estudos, alguns sujeitos são mais propensos a apresentarem ruminação. As experiências no início da vida parecem refletir nas estratégias utilizadas durante a fase adulta, ou seja, pessoas que sofreram altos níveis de estresse são mais suscetíveis a estratégias mal adaptativas, ao desenvolvimento de depressão e ao baixo controle cognitivo⁸.

A ruminação crônica ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) e eleva os níveis de cortisol. A alta ativação do eixo HPA está associada a comportamentos de esquiva e emoções negativas, presentes nos quadros de ansiedade e depressão⁸. 

Conclusão

Estudos apontam que a IE é preditora de empatia, bem-estar, sucesso profissional e qualidade dos relacionamentos interpessoais. No entanto, pesquisas mais robustas na área são necessárias, visto que ainda há uma grande lacuna científica sobre o tema⁷.

A dificuldade em identificar emoções parece aumentar o sofrimento, impedindo que estratégias efetivas de regulação emocional (como por exemplo, técnicas de respiração e reestruturação cognitiva) sejam aplicadas. Tratamentos na área da Terapia Cognitivo-comportamental (TCC) oferecem instrumentos com objetivo de mudar pensamentos disfuncionais e melhorar o gerenciamento das emoções².

Referência

  1. Roberts, Richard D., Flores-Mendoza, Carmen E. e Nascimento, Elizabeth do. Inteligência emocional: um construto científico?. Paidéia (Ribeirão Preto) [online]. 2002, v. 12, n. 23, pp. 77-92. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-863X2002000200006>. Epub 29 Jul 2009. ISSN 1982-4327. 
  1. Morie, K. P., Crowley, M. J., Mayes, L. C., & Potenza, M. N. (2022). The process of emotion identification: Considerations for psychiatric disorders. Journal of psychiatric research, 148, 264–274. https://doi.org/10.1016/j.jpsychires.2022.01.053
  1. Barbey, A. K., Colom, R., & Grafman, J. (2014). Distributed neural system for emotional intelligence revealed by lesion mapping. Social cognitive and affective neuroscience, 9(3), 265–272. https://doi.org/10.1093/scan/nss124
  1. Hughes, DJ, Kratsiotis, IK, Niven, K., & Holman, D. (2020). Traços de personalidade e regulação emocional: uma revisão e recomendações direcionadas. Emoção, 20 (1), 63–67. https://doi.org/10.1037/emo0000644
  1. Ka, L., R, E., K, W., G, J., & Lje, B. (2021). Associations between Facets and Aspects of Big Five Personality and Affective Disorders: A Systematic Review and Best Evidence Synthesis. Journal of affective disorders, 288, 175–188. https://doi.org/10.1016/j.jad.2021.03.061
  2. Alessandra Cristina Braçale Arrigoni, Êdela Aparecida Nicholeti, Balestra, A. G., & Donadon, M. F. (2021). A Reestruturação Cognitiva como Intervenção na Redução das Interpretações Catastróficas no Transtorno de Ansiedade Generalizada. REVISTA EIXO, 10(1), 13-22. https://doi.org/10.19123/eixo.v10i1.769
  1. Hogeveen, J., Salvi, C., & Grafman, J. (2016). ‘Emotional Intelligence’: Lessons from Lesions. Trends in neurosciences, 39(10), 694–705. https://doi.org/10.1016/j.tins.2016.08.007
  1. Compare, A., Zarbo, C., Shonin, E., Van Gordon, W., & Marconi, C. (2014). Emotional Regulation and Depression: A Potential Mediator between Heart and Mind. Cardiovascular psychiatry and neurology, 2014, 324374. https://doi.org/10.1155/2014/324374

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Comentários 3

  1. Claudete says:
    1 ano atrás

    MUITO BOM ESCLARECEDOR PARABENS

    Responder
  2. Claudete says:
    1 ano atrás

    MUITO BOM, ESCLARECEDOR . PARABENS

    Responder
    • Tatiane Veríssimo says:
      1 ano atrás

      Obrigada Claudete. Fico feliz que tenha gostado!

      Responder

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