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Herpes labial e Alzheimer: o que diz a ciência sobre essa possível ligação

Entenda como o vírus do herpes simples tipo 1 (HSV-1) pode estar relacionado ao risco de desenvolver a doença de Alzheimer

Leonardo Faria por Leonardo Faria
07/07/2025
em Sem categoria
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Nos últimos anos, pesquisadores vêm redescobrindo uma hipótese intrigante: a de que infecções virais, especialmente pelo vírus do herpes simples tipo 1 (HSV-1), podem estar associadas ao desenvolvimento da doença de Alzheimer. Embora essa ideia não seja nova, estudos recentes publicados em periódicos de alto impacto, como a revista Neuron, reacenderam o debate científico e público sobre esse possível elo.

herpes labial e Alzheimer
Infecções virais como a herpes labial foram associadas à doença de Alzheimer.

Neste artigo, exploraremos os mecanismos neurobiológicos que sustentam essa hipótese, os principais achados da literatura científica e as implicações clínicas e preventivas. O texto segue as melhores práticas de SEO e é baseado em evidências atualizadas.

O que é a doença de Alzheimer?

A doença de Alzheimer (DA) é uma enfermidade neurodegenerativa progressiva e incurável, caracterizada por deterioração cognitiva, perda de memória, desorientação e, nos estágios avançados, completa dependência funcional. No cérebro de pacientes com Alzheimer, observam-se duas principais lesões neuropatológicas:

  • Placas amiloides (extracelulares), formadas pelo acúmulo do peptídeo beta-amiloide (Aβ);
  • Emaranhados neurofibrilares (intracelulares), compostos por proteína tau hiperfosforilada.

A teoria da cascata amiloide sugere que a deposição de Aβ seria o evento inicial que desencadearia o processo neurodegenerativo. No entanto, essa explicação não é suficiente para justificar todos os casos da doença, especialmente os de início tardio e esporádicos, que representam mais de 99% das ocorrências.

Herpes Simples tipo 1 (HSV-1): um vírus neurotrópico

O vírus do herpes simples tipo 1 (HSV-1) é altamente prevalente, infectando cerca de 70% a 80% da população mundial. Após a infecção primária, o HSV-1 estabelece latência nos gânglios do nervo trigêmeo, podendo ser reativado periodicamente — muitas vezes causando lesões orais, como o herpes labial.

Por ser neurotrópico, o HSV-1 tem a capacidade de invadir o sistema nervoso central, especialmente em situações de queda da imunidade, como ocorre com o envelhecimento.

Dois estudos publicados na Neuron e Cell Reports

Um estudo marcante publicado na revista Neuron em 2022 forneceu evidências robustas de que encefalites virais aumentam significativamente o risco de Alzheimer. Utilizando dados de duas grandes coortes populacionais da Finlândia e do Reino Unido, os autores demonstraram que indivíduos que sofreram encefalite viral apresentaram um risco 20 a 30 vezes maior de desenvolver Alzheimer posteriormente (Itzhaki et al., 2022).

No entanto, um novo estudo de 2025 foi ainda mais específico sobre a relação do HSV-1 e a doença de Alzheimer. Pesquisadores da Universidade de Pittsburgh descobriram uma possível ligação entre a Doença de Alzheimer e o vírus do herpes simples tipo 1 (HSV-1), sugerindo que esse tipo de infecção viral também pode influenciar o desenvolvimento da neurodegeneração. A pesquisa, publicada na Cell Reports, mostrou que proteínas virais relacionadas ao HSV-1 foram encontradas em cérebros de pacientes com Alzheimer, especialmente em regiões vulneráveis à doença. Essas proteínas estavam associadas aos emaranhados de tau fosforilada, um dos principais marcadores patológicos do Alzheimer (Hyde et al., 2025).

O estudo também apontou que a proteína tau, tradicionalmente vista como prejudicial no Alzheimer, pode ter um papel protetor inicial diante de infecções virais. Em experimentos com organoides cerebrais humanos, a presença do HSV-1 modulou os níveis e a função da proteína tau, reduzindo a morte de neurônios após a infecção. Isso sugere que o acúmulo de tau pode começar como uma resposta adaptativa do cérebro, mas que, com o tempo, pode contribuir para danos neuronais persistentes.

Como o HSV-1 pode contribuir para o Alzheimer?

Em resumo, a hipótese infecciosa do Alzheimer propõe que o HSV-1 desempenha um papel ativo na gênese da doença, especialmente por meio dos seguintes mecanismos:

  1. Latência e reativação cerebral: o vírus pode permanecer dormente por décadas e se reativar com o envelhecimento ou imunossupressão.
  2. Resposta imune e produção de Aβ: o peptídeo beta-amiloide tem função antimicrobiana. Sua produção pode ser induzida como resposta à infecção viral.
  3. Indução de neuroinflamação crônica: o HSV-1 pode estimular inflamações persistentes no cérebro, favorecendo a patologia da Alzheimer.
  4. Alteração da proteína tau: modelos experimentais mostraram que o HSV-1 pode desencadear hiperfosforilação da proteína tau, elemento-chave da neurodegeneração.

Evidências complementares

1. Assinaturas virais em cérebros com Alzheimer

Estudos histopatológicos identificaram DNA do HSV-1 em regiões cerebrais afetadas pelo Alzheimer, especialmente no hipocampo e córtex temporal, além da presença de proteínas virais associadas às placas amiloides (Readhead et al., 2018).

2. Efeitos protetores de antivirais

Estudos epidemiológicos demonstraram que pacientes tratados com antivirais para HSV-1 apresentaram risco reduzido de demência em comparação com os não tratados (Tzeng et al., 2018).

3. Vacinação contra herpes-zóster e risco de Alzheimer

Estudos realizados no Reino Unido e Austrália indicaram que a vacinação contra o vírus varicela-zoster (VZV), da mesma família do HSV-1, está associada a uma significativa redução no risco de demência (Scherrer et al., 2021).

Um modelo hipotético: infecção, reativação e neurodegeneração

A seguir, uma síntese do modelo teórico mais aceito até o momento:

  1. Infecção primária por HSV-1
    O vírus infecta a mucosa oral e se aloja nos gânglios trigeminais.
  2. Latência viral
    Permanece inativo por anos, mas mantém potencial de reativação.
  3. Reativação com envelhecimento/imunossupressão
    Favorece a migração viral para o cérebro.
  4. Resposta imune e produção de Aβ
    A presença do vírus induz neuroinflamação e acúmulo de Aβ.
  5. Degeneração cerebral progressiva
    Cascata de eventos culmina em disfunção sináptica, perda neuronal e demência.

Implicações clínicas e preventivas

  • Antivirais como estratégia preventiva: especialmente em pacientes com recorrência de herpes labial e histórico familiar de Alzheimer.
  • Vacinação contra VZV: estudos sugerem benefício populacional em termos de prevenção de demência.
  • Monitoramento imunológico em idosos: imunossenescência pode favorecer reativações virais perigosas.
  • Pesquisas futuras: organoides cerebrais, modelos animais e ensaios clínicos com antivirais direcionados.

Considerações finais

Embora a relação entre o HSV-1 e a doença de Alzheimer ainda não seja definitiva, o crescente corpo de evidências indica que essa hipótese merece atenção séria da comunidade científica. A infecção pelo herpes labial pode não ser apenas um incômodo estético, mas um potencial gatilho neurodegenerativo em cérebros envelhecidos e suscetíveis.

É fundamental reforçar que a presença do vírus por si só não causa Alzheimer, e sim a interação de múltiplos fatores — genéticos, ambientais, infecciosos e imunológicos. Contudo, esse novo entendimento pode abrir caminhos promissores para intervenções preventivas e terapêuticas mais eficazes.

Referências e Leitura Complementar:
  1. Hyde, V. R., Zhou, C., Fernandez, J. R., Chatterjee, K., Ramakrishna, P., Lin, A., … & Shemesh, O. A. (2025). Anti-herpetic tau preserves neurons via the cGAS-STING-TBK1 pathway in Alzheimer’s disease. Cell Reports, 44(1). ➞ Ler Artigo
  2. Rippee-Brooks, M. D., Wu, W., Dong, J., Pappolla, M., Fang, X., & Bao, X. (2024). Viral infections, are they a trigger and risk factor of Alzheimer’s disease?. Pathogens, 13(3), 240. ➞ Ler Artigo
  3. Itzhaki, R. F., Lin, W. R., Shang, D., Wilcock, G. K., Faragher, B., & Jamieson, G. A. (2022). Viral infections and risk of Alzheimer’s disease: Evidence from population studies and experimental models. Neuron, 110(3), 451–472. ➞ Ler Artigo
  4. Readhead, B., Haure-Mirande, J.-V., Funk, C. C., Richards, M. A., Shannon, P., Haroutunian, V., … & Dudley, J. T. (2018). Multiscale analysis of independent Alzheimer’s cohorts finds disruption of molecular, genetic, and clinical networks by human herpesvirus. Neuron, 99(1), 64–82.e7. ➞ Ler Artigo
  5. Tzeng, N. S., Chung, C. H., Lin, F. H., Chiang, C. P., Yeh, C. B., Huang, S. Y., … & Chou, Y. C. (2018). Anti-herpetic medications and reduced risk of dementia in patients with herpes simplex virus infections—a nationwide, population-based cohort study in Taiwan. Neurotherapeutics, 15(2), 417–429. ➞ Ler Artigo
  6. Scherrer, J. F., Salas, J., Wiemken, T. L., et al. (2021). Association of herpes zoster and zoster vaccine with the risk of dementia. Journal of Alzheimer’s Disease, 83(1), 67–78. ➞ Ler Artigo
  7. Eyting, M., Xie, M., Michalik, F. et al. A natural experiment on the effect of herpes zoster vaccination on dementia. Nature 641, 438–446 (2025). ➞ Ler Artigo

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