O Dicionário de Oxford, uma das mais respeitadas referências lexicográficas do mundo, tem a tradição de eleger, anualmente, uma palavra que sintetize o zeitgeist — o espírito do tempo. Em 2024, a palavra escolhida foi “brain rot”, uma expressão que evoca reflexões profundas sobre o impacto da era digital em nossa cognição, cultura e sociedade.
Este artigo explora o significado dessa escolha, os critérios que a justificaram e as implicações para nossa compreensão do mundo contemporâneo.
O que é o Dicionário de Oxford?
O Dicionário de Oxford (Oxford English Dictionary, ou OED) é um compêndio abrangente da língua inglesa, cuja história remonta ao final do século XIX. Ele é reconhecido não apenas por sua extensão, mas também por seu rigor acadêmico e pela profundidade com que documenta o uso e a evolução das palavras.
Todos os anos, os editores do OED analisam milhões de palavras usadas em diversas fontes, incluindo redes sociais, notícias, publicações acadêmicas e a cultura pop. A escolha da Palavra do Ano reflete o impacto sociocultural e as tendências linguísticas que moldaram o ano anterior.
Por que brain rot foi escolhida?
A expressão “brain rot”, traduzida literalmente como “podridão cerebral”, é um termo coloquial usado para descrever os efeitos nocivos de consumir conteúdo superficial, repetitivo ou de baixa qualidade, especialmente em ambientes digitais como redes sociais e plataformas de entretenimento. Embora tenha surgido de forma humorística, a expressão ganhou trâfego significativo ao longo de 2024, sendo amplamente discutida em debates sobre saúde mental, educação e atenção.
Entre os fatores que contribuíram para a escolha de “brain rot” estão:
- A era da sobrecarga de informação: O excesso de conteúdo digital tem sido apontado como um dos principais fatores de distração e superficialidade cognitiva, comprometendo nossa capacidade de reflexão profunda.
- Debates sobre a saúde mental: A relação entre o tempo excessivo em telas e condições como ansiedade, depressão e esgotamento mental foi amplamente discutida em 2024.
- Humor como ferramenta crítica: Apesar de sua origem leve, “brain rot” serviu como uma metáfora poderosa para expressar preocupações sérias, ganhando trâfego em vídeos virais, memes e artigos acadêmicos.
Palavras do Ano Anteriores
As Palavras do Ano do OED muitas vezes funcionam como um espelho da sociedade. Alguns exemplos notáveis incluem:
- 2013: “Selfie”: Refletindo a ascensão das redes sociais e a era da imagem.
- 2016: “Post-truth”: Destacando o impacto da desinformação e da polarização política.
- 2020: “Lockdown”: Capturando a experiência global de restrições devido à pandemia de COVID-19.
- 2022: “Goblin mode”: Uma expressão que celebra a rejeição das normas sociais convencionais.
Como a palavra do ano é escolhida?
A seleção segue um processo rigoroso que inclui:
- Monitoramento linguístico: Análise de frequência e contexto de uso das palavras em fontes diversas.
- Significado cultural: As palavras precisam capturar tendências sociais, avanços tecnológicos ou debates contemporâneos.
- Impacto global: A palavra deve ressoar com audiências amplas, transcendo barreiras regionais ou setoriais.
Relevância da iniciativa
A eleição da Palavra do Ano é mais do que um exercício de popularidade linguística. Ela:
- Documenta mudanças sociais: Oferece um registro histórico de como nossa linguagem e cultura evoluem ao longo do tempo.
- Promove reflexão crítica: Instiga debates sobre os fenômenos que moldam a sociedade.
- Amplia o vocabulário global: Introduz palavras e conceitos a novas audiências, incentivando o diálogo intercultural.
Implicações de brain rot
A escolha de “brain rot” levanta questões importantes:
- Educação digital: Como podemos preparar as futuras gerações para navegar no mar de informações digitais sem comprometer sua saúde mental?
- Atenção e cognição: A sociedade precisa reavaliar como o tempo em telas afeta a capacidade de atenção, criatividade e aprendizado.
- Responsabilidade das plataformas: A expressão também incentiva discussões sobre o papel de plataformas como Instagram, TikTok e YouTube em moderar o conteúdo e promover experiências mais saudáveis.
Reflexão final
“Brain rot” não é apenas uma crítica à superficialidade digital, mas também um convite para repensar como nos conectamos, aprendemos e evoluímos em um mundo cada vez mais mediado pela tecnologia. A palavra do ano nos lembra que, apesar dos desafios, temos a capacidade de moldar nosso futuro cognitivo com escolhas mais conscientes e informadas.
Referências
- Oxford English Dictionary. (2024). Palavra do Ano. Disponível em: https://www.oxfordlanguages.com.
- Carr, N. (2010). The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains. W. W. Norton & Company.
- Newport, C. (2016). Deep Work: Rules for Focused Success in a Distracted World. Grand Central Publishing.
- Statista. (2024). Uso de redes sociais e impacto na saúde mental. Disponível em: https://www.statista.com.