Conhecido como Teste de Linguagem – Avaliação de Linguagem Pré-Escolar (TL-ALPE), permite avaliar o desenvolvimento linguístico em crianças dos três aos seis anos e pretende ajudar a reduzir a percentagem de crianças – dez por cento – que chegam ao 1.º ciclo com perturbações de linguagem ainda sem diagnóstico.
Concebido por uma equipe de investigadoras da Universidade de Aveiro (UA) e do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) o TL-ALPE permite, de forma simples e eficaz, avaliar as competências linguísticas das crianças em idade pré-escolar nas áreas da semântica, da morfossintaxe e da fonologia. Desempenhos abaixo dos limites normais e não acompanhados em idade precoce podem comprometer o sucesso escolar e social.
O teste, aferido cientificamente para os pequenos falantes da língua portuguesa, está construído de forma a que, intuitivamente, possa ser utilizado pelos profissionais que trabalham diretamente com a faixa etária dos três aos seis anos. “Educadores da infância, psicólogos ou pediatras podem usar o instrumento para um diagnóstico rápido de uma perturbação no desenvolvimento linguístico das crianças e sempre que necessário devem fazer o encaminhamento para um terapeuta da fala”, explica uma das quatro autoras do teste, Marisa Lousada, professora na Escola Superior de Saúde da UA.
Uma boa ferramenta para o fonoaudiólogo
Já os fonoaudiólogos, através do TL-ALPE, podem não só avaliar detalhadamente as competências linguísticas dos pacientes como, através dele, elaborar um plano de intervenção específico. “O TL-ALPE permite avaliar a compreensão auditiva e a expressão verbal oral em várias áreas”, aponta a investigadora que junta a docência à investigação no Instituto de Engenharia Eletrónica e Telemática de Aveiro (IEETA), um dos pólos de investigação da UA.
Assim, através do teste “o fonoaudiólogo pode avaliar nas crianças a forma como constroem frases, o tipo e a riqueza do vocabulário que utilizam e a compreensão que têm ou não sobre a linguagem”. Além disso, os técnicos podem perceber se os pequenos “compreendem frases complexas, se conhecem o significado das palavras que são utilizadas e se são capazes de refletir sobre a linguagem”.
O tratamento precoce é fundamental
Quanto mais cedo se identificarem as crianças com problemas, mais cedo podem começar a ser tratadas. “É muito importante a capacidade que este instrumento dá ao fonoaudiólogo de perceber como as crianças desta faixa etária estão entre os parâmetros linguísticos considerados normais para as respectivas idades”, explica Ana Mendes, investigadora no IEETA e docente no IPS. “Quanto mais cedo se identificarem as crianças com problemas, mais cedo podem começar a ser tratadas de forma a que, quando ingressarem na escola, já estejam em acompanhamento”, diz a autora do teste. “Quanto mais tarde forem abordadas, mais possibilidades de terem um grande atraso não só no desenvolvimento linguístico como no cognitivo, escolar e social, com todas as repercussões que isso representa no desenvolvimento do ser humano”, alerta.
Adianta a investigadora que “estando o TL-ALPE aferido para a população portuguesa, o terapeuta aplica-o hoje, implementa o plano de intervenção e volta a usar o mesmo instrumento para analisar a eficácia da intervenção terapêutica”. Ana Mendes lembra ainda outra das grandes vantagens do TL-ALPE: “Muitas vezes, os fonoaudiólogos, como não têm estes instrumentos aferidos, usam o seu próprio instrumento, criado por eles ou traduzido de outras línguas” devido ao escasso número de instrumentos existentes para o português europeu.
Constituído pelo manual de instruções, por um livro de imagens, por uma folha de registro e por uma coleção de objetos próprios que estimulam as respostas das crianças de acordo com as indicações do terapeuta, o teste foi desenvolvido no âmbito de dois projetos de investigação financiados pela Fundação Calouste Gulbenkian, pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e pelo Ministério da Educação e Ciência.
Além de Marisa Lousada e Ana Mendes, o TL-ALPE tem a assinatura das docentes Fátima Andrade, docente no Departamento de Educação da UA, e de Elisabete Afonso, antiga docente da UA, que atualmente leciona no ensino secundário.
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