No início da infância, as partes cerebrais “visuais” de uma criança cega respondem de forma significativa ao som e à linguagem falada, segundo estudo da Universidade Johns Hopkins, publicado no The Journal of Neuroscience.
Isso sugere que o cérebro jovem possui uma grande capacidade de adaptação. “Nós descobrimos que, na infância, o córtex cerebral é notavelmente flexível”, afirma a neurocientista Marina Bedny, responsável pela pesquisa no MIT (Massachusetts Institute of Technology).
A pesquisa
Bedny estudou 19 crianças cegas e 40 crianças com visão normal, entre 4 e 17 anos de idade. Apenas uma das crianças não era cega desde o nascimento. Elas foram monitoradas enquanto escutavam histórias, músicas ou discursos em outras línguas. Para a surpresa dos estudiosos, a parte que seria responsável pela visão das crianças cegas – região occipital lateral esquerda – respondeu aos estímulos de maneira mais forte, principalmente quando elas entendiam o significado do que escutavam; já nas crianças não cegas, mesmo quando foram colocados tampões visuais, isso não ocorreu. A conclusão é de que o córtex visual daquelas crianças está envolvido com a compreensão da linguagem.
A principal novidade é que os estudos mostraram como e quando essa mudança na função cerebral ocorre. Além disso, de acordo com a pesquisa, a reação aos estímulos aumentaria na medida em que as crianças se desenvolvessem.
A expectativa agora é que essa descoberta possa ajudar pessoas com danos cerebrais, podendo, por exemplo, treinar uma parte do cérebro não danificada, para que essa possa fazer o trabalho daquela que tenha sofrido lesões, conforme explica Bedny. Seria o cérebro uma espécie de computador, que pode ser programado e reprogramado para fazer o que queremos? Segundo Bedny, sim.