Pleno século XXI e o amor continua sendo um mistério para a ciência (e para nós, claro).
Dia dos namorados passou por aí… Planos, viagens, presentes e, o mais importante, estar junto de alguém que você gosta muito e que te deixa (nem que seja um pouco) abobalhado/a.
E pior: você nem consegue saber o porquê. Quando vê, já está controlado/a por algo que não entende muito bem.
Já parou para pensar por que o amor mexe com a gente dessa forma?
Você vai descobrir que o amor na verdade é um jogo de manipulações. Não da outra pessoa, mas do seu cérebro!
Se ficou com curiosidade, agora vamos explicar como seu cérebro se torna submisso ao Cupido.
Realmente rola uma “química”?
Sabe aquela euforia do começo do namoro? Tudo é lindo, tudo é bom. Você acabou de sair de um encontro e já sai ligando para a pessoa quando chega em casa.
Isso tudo envolve uma “droguinha” chamada dopamina! Por que “droguinha”?
Porque, na verdade, ela é a mesma substância envolvida no vício das drogas. Inclusive, no amor, ela atua no mesmo lugar dos entorpecentes.
O núcleo accumbens é o culpado. Ou vítima…?
Quando uma pessoa se apaixona e passa a conviver com a pessoa amada, o núcleo é inundado com dopamina, gerando a sensação de recompensa. Ou seja, aquela sensação gostosa de que aquilo tudo é muito bom, vale a pena e que precisamos de mais! [1]
Ou seja, um vício.
Então, está certo quando você fala para a/o namorada/o: “meu vício é você”. Literalmente…
O amor é cego?
O amor realmente é um grande estrategista. Espertamente liga e desliga funções cerebrais conforme seu interesse.
A próxima vítima: o córtex pré-frontal.
Essa é a parte mais anterior do cérebro, que atua com várias atividades conscientes e inconscientes. Uma delas é quem? O julgamento!
O amor vai lá e desliga o córtex pré-frontal.
O resultado é a redução da capacidade de julgamento crítico e moral. [1]
O feio fica bonito, o chato fica legal, e a pessoa fica cheia de qualidades. E você nem consegue enxergar os defeitos com muita facilidade! Natural.
Quer mais uma surpresa? Essa perda de julgamento é seletiva.
Em outras palavras: a pessoa apaixonada ainda consegue julgar criticamente um livro, ou um trabalho científico e mesmo julgar outras pessoas. Ela só não consegue julgar a pessoa amada… [1]
Amor à primeira vista?
“Ah, nisso aí eu não acredito!”
Bom, acho que realmente não tem uma estrutura neurológica que possamos apontar e culpar dessa vez. Mas existe sim, uma base para o amor à primeira vista!
Mesmo inconscientemente, já escolhemos a pessoa antes mesmo de a conhecer.
Geralmente, as pessoas já têm uma ideia de com que tipo de pessoa querem namorar, mesmo que não percebam isso. A escolha é baseada em questões culturais, experiências de vida e influência dos pais. [1]
Logo, fica muito mais fácil se apaixonar pelo tipo de pessoa desejada. E isso pode ocorrer “à primeira vista”.
Essa tendência foi observada em um estudo com estudantes do sexo feminino, solteiras, da Universidade St Andrews, na Escócia.
Elas tinham que escolher quais características queriam ter em um namorado.
Os resultados foram os mesmos para a maioria das estudantes (que vinham de um mesmo contexto cultural), mostrando que elas já tinham uma ideia de com quem gostariam de namorar. [1]
Os opostos se atraem?
Aqui também não há um culpado específico. Na verdade, a questão vem do mesmo desligamento do córtex pré-frontal, reduzindo a capacidade de julgamento.
Já reparou seus casais de amigos?
Sempre tem aquele casal que você pensa: “Mas como fulano e fulana podem estar namorando? Não têm nada a ver!”
Essa já é uma questão complexa.
Pode ser que isso ocorra por conta daquela mesma “escolha prévia de com quem se quer namorar”. É normal a pessoas se chatearem com as atitudes dos pais ou mesmo com as próprias e querer mudar um pouco de vida.
Junte essa tendência a um estado de julgamento reduzido da pessoa amada e temos aí por que as pessoas tendem a gostar de outras completamente diferentes.
Outros estudiosos já acham que isso é um mecanismo evolutivo.
Na natureza, quanto mais os genes se misturam, melhor o resultado. Seres mais equilibrados e bem adaptados ao meio. Por que não aconteceria a mesma coisa nos relacionamentos humanos? [1]
A ideia seria namorar alguém diferente para misturar esses genes. Vai saber…
O amor nos torna irresponsáveis?
Isso também vem da “confusão” gerada pelo amor. O raciocínio é simples.
O córtex pré-frontal é responsável por nossa racionalidade, além de outras funções. O córtex pré-frontal está desligado quando a pessoa se apaixona.
Logo, o amor é irracional! E realmente é.
As pessoas apaixonadas são mais propensas a “fazer besteira” por conta da pessoa amada, já que auto-controle fica minado.
A pessoa também fica mais propensa a conhecer novos lugares, pessoas, e situações.
E é pelo mesmo mecanismo que ocorre a “turvação de consciência” que acontece durante o ato sexual, grande autora das “escapadas” que geram muita preocupação e, algumas vezes, bebês de verdade. [1]
Sexo realmente aproxima o casal?
Pode parecer só uma desculpa de quem está mais animado/a hoje, mas a resposta é sim.
As pesquisas mostraram que as estruturas cerebrais ativadas no ato sexual são as mesmas do amor romântico. [1]
O córtex da ínsula, giro cingulado anterior, hipocampo, núcleo estriado, núcleo accumbens e outros nomes complicados.
A atividade sexual é prazerosa por inundar o cérebro com dopamina, causando uma sensação boa e estimulando a repetição do ato, podendo até gerar um vício (como vimos antes).
Mas, além disso, o ato sexual, em especial o orgasmo, libera 2 hormônios muito importantes: a ocitocina e a vasopressina.
“Mas, por que são tão importantes?”
Porque eles (especialmente a ocitocina), além de estimular a liberação de dopamina no cérebro, são responsáveis pela formação de laços afetivos (não só os sexuais), incluindo a ligação mãe-filho. [1] [2]
Aqui, ela liga emocionalmente o casal.
Isso foi, inclusive, observado em estudos com vários mamíferos. Animais com menos ocitocina e menos receptores para ocitocina eram menos ligados aos “parceiros”.
Já animais claramente monogâmicos, quando eram privados de ocitocina, se tornavam poligâmicos e sem muita demonstração de afeto aos outros animais. [1] [2]
Já entendeu a dica?
O amor acaba?
Sim. E não.
Esse é um assunto bem delicado, que nós temos muita dificuldade em compreender.
O que as pesquisas observaram é que o amor, na verdade, evolui, ao longo dos anos, de um estado eufórico e intenso para outro mais compassivo e “prático”. [3]
Mesmo nos estudos com neuroimagem, o padrão de ativação cerebral era diferente nos casais com relacionamentos há mais de 10 anos.
Geralmente, eles tinham mais ativação dos globos pálidos, substância negra e tálamo, que estão mais associados à amizade e à ligação afetiva. Coincidência ou não, essas regiões são muito sensíveis a ocitocina (hormônio das ligações afetivas). [2] [3]
Em resumo, isso quer dizer que, realmente, todo aquele calor do início de namoro vai diminuir um dia.
Não se sabe bem por que ou como, mas acredita-se que também seja algo evolutivo, como mostra uma reportagem da revista Superinteresssante: o amor intenso duraria cerca de 7 anos, tempo suficiente apenas para criar minimamente os filhos do casal e, então, o núcleo familiar não teria mais tanta “utilidade”. [4]
Contudo, a neurobiologia está aí para nos ajudar a resolver problemas como esse! “Mas, tem alguma solução?!”
Esse mesmo estudo de neuroimagem estudou casais com 10 anos ou mais de relacionamento que diziam manter o romance até hoje.
O que o estudo achou é que esses casais realmente ainda tinham muita dopamina no cérebro e ela ativava as mesmas áreas do amor caloroso e romântico, além daquelas do amor mais compassivo. [3]
Já pegou a moral da história?
Apesar do quão boa seja a euforia do começo, isso tudo serve mais como um gatilho que nos leva a procurar alguém com quem se relacionar.
Contudo, o que mantém o amor de um casal é a ligação que se mantém ao longo prazo.
Ciúme exagerado, pouca aceitação, cobranças, egoísmo, dependência excessiva.
Todas essas coisas (muito comuns nos relacionamentos de hoje, que seja dito) vão ruir o relacionamento uma vez que seu cérebro sair do “barato” do amor e voltar a ter um julgamento crítico mais aguçado.
Quer provas?
Profissionais da área recomendam 2 coisas básicas para manter o romance intenso apesar dos anos que se passam:
- Empatia: o esforço consciente de se colocar no lugar da pessoa amada, entendê-la, respeitar seus limites e compreender seus defeitos e angústias. [3]
- Novidade: a busca de experiências novas também joga a “droguinha” dopamina no seu cérebro e te faz associar a sensação boa com a presença da pessoa amada. [3]
Em suma, o que isso faz é aumentar a proximidade.
Se o relacionamento, ao longo do tempo, “pretende” se tornar mais compassivo, é no companheirismo que o amor romântico dos tempos de namoro se mantém vivo.
E funciona, viu?
O mesmo estudo mostrou que esses casais mantinham a vontade de estar juntos, a vontade de fazer o outro feliz e mesmo o desejo sexual se mantinha a todo vapor. [3]
Então, aproveite seus dias para curtir ou reacender a euforia do namoro e construir um relacionamento bom e duradouro!
Já se apaixonou pelo assunto? Leia o artigo deste link para saber mais a fundo sobre a neurociência do amor.
Referências:
- FEBS (Federation of European Biochemical Societies) Press, 2007
- Pharmacology, Biochemistry and Behavior, 2014 (Via NIH Public Access)
- Social, Cognitive & Affective Neuroscience, 2012
- Superinteressante
Imagens:
- WallpaperUp
- Love, Lust and Addiction (via Google Imagens)
- Andy Savage Blog (via Google Imagens)
- shortday
- iEmoji
- weheartit.com
- allpicts.in
- HD Wallpaper Backgrounds
Enfim no amor existe mais razão do que em qualquer outra atividade humana?! sensacional….