Autismo e alimentação são assuntos relacionados e amplamente discutidos por médicos e nutricionistas. Mas, será que o tipo de refeição e o modo de se alimentar realmente fazem diferença para o autista? Antes de responder a essa questão, vamos recordar aspectos importantes relacionados ao transtorno.
O autismo infantil é o mais conhecido entre os Transtornos Globais do Desenvolvimento (CID-10) ou Transtornos do Espectro do Autismo (DSM-5). É caracterizado pelo atraso no desenvolvimento das habilidades sociais e comunicação, além da presença de um padrão repetitivo e restritivo de atividades, interesses e comportamentos. Geralmente se manifesta até os três anos de idade.
As perturbações do espectro do autismo incluem ainda a Síndrome de Asperger e outros atrasos do desenvolvimento não especificados. Os sintomas apresentados por cada indivíduo são extremamente variados.
Em linhas gerais, as interações sociais são inadequadas. Pode ocorrer atraso na linguagem, agressividade, recusas na realização de tarefas de rotina, comportamentos repetitivos, entre outros.
Os meninos são os mais afetados pelo autismo, que cresceu ao ponto de se tornar um problema de saúde pública mundial. O número de casos aumentou em 78% desde 2007, atingindo aproximadamente 1 em cada 88 crianças nos Estados Unidos.
Isso implica em uma maior ocorrência de diversas doenças crônicas associadas como asma, diabetes tipo 1, esquizofrenia e distúrbios do sono.
Autismo e alimentação
A ciência mostra que, em relação à alimentação, o momento da refeição de autistas traz três aspectos mais marcantes:
- seletividade: que limita a variedade de alimentos, podendo levar a carências nutricionais;
- recusa: mesmo selecionando os alimentos, é frequente a não aceitação, levando a um quadro de desnutrição calórico-proteica;
- indisciplina: que também contribui para a inadequação alimentar.
A má alimentação e a falta de equilíbrio energético são motivos de especial preocupação, pois a ingestão de micronutrientes está intimamente relacionada à ingestão de energia. É provável que as crianças, que consomem menos energia do que os adultos, também sofram de deficiência de ferro e zinco.
Existe uma importante associação entre fatores genéticos e a origem do autismo. Várias mutações relacionadas às sinapses, o crescimento e a migração dos neurônios e o funcionamento de neurotransmissores têm sido implicadas. Tais alterações tornam os indivíduos predispostos ao transtorno.
As mutações podem ocorrer por exposição excessiva a fatores mutagênicos, metais pesados, deficiências de substâncias protetoras, como é o caso da vitamina D e algumas enzimas antioxidantes. Por isso os autistas estão mais sujeitos a intoxicações.
Algumas crianças e adolescentes com autismo podem necessitar de dietas especiais. A intervenção do nutricionista geralmente se baseia na existência de alergias alimentares e determinadas carências; a falta de importantes vitaminas e minerais pode causar os sintomas essenciais do autismo.
O glúten e a caseína geram a sensação de prazer, além de hiperatividade, falta de concentração, irritabilidade, dificuldade na interação da comunicação e sociabilidade. Segundo os estudos, autistas que aderiram a uma dieta sem esse itens apresentaram melhora dos sintomas. Tais peptídeos, assim como outros componentes nutricionais, teriam alguma participação na fisiopatologia do autismo.
Entre os fatores envolvidos, pesquisas recentes apontam para uma possível contribuição genética, fatores de risco pré-natal e pós-natal, toxinas de alimentos, intoxicação por metais pesados, alergia à caseína e ao glúten, assim como uma variedade de agentes infecciosos, entre eles microrganismos gram-negativos e a Cândida albicans.
Doenças gastrointestinais em autistas
Entre as principais doenças gastrointestinais associadas ao autismo temos: constipação, diarreia, hiperplasia nodular linfóide íleo-cólica, enterocolite, gastrite, esofagite, disbiose e aumento da permeabilidade intestinal.
Também têm sido descritas alterações no metabolismo dos autistas, como a diminuição da expressão de enzimas e transportadores, condições promotoras de má digestão e absorção.
Os nutrientes não digeridos favorecem o crescimento anormal de bactérias e fungos presentes no intestino. Pode ocorrer a colonização de microrganismos causadores de doenças e produtores de neurotoxinas, gerando problemas como constipação e diarreia.
A microbiota normal do intestino é importante, não só para competir com microrganismos patogênicos, mas também para promover a motilidade gastrointestinal, manter o balanço hídrico e sintetizar algumas vitaminas. Parecem ser também características do autismo alterações da resposta imunológica a certas proteínas alimentares, o que pode levar à inflamação gastrointestinal.
O possível desconforto resultante do processo inflamatório pode agravar os problemas comportamentais. A existência de uma permeabilidade intestinal aumentada pode resultar em uma maior absorção de peptídeos que, por sua vez, são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica, exercendo efeitos a nível central como opioides (analgésicos).
A intervenção nutricional ajuda a reduzir os sintomas que trazem transtorno, tanto para o paciente autista, como para seus familiares e cuidadores. A alimentação adequada é fator fundamental na melhora e progresso desse indivíduo.
Autora: Rafaela Rainho (Nutricionista funcional da Clínica MeuCérebro)