“Chuvinha” de neurotransmissores
A atriz coadjuvante de nossas vidas é sempre ela: a música. Estou certa? Ou poderíamos fazer a tentativa de imaginar o mundo sem ela?
“Canta canta minha gente, deixa a tristeza pra lá, canta alto, canta forte, que a vida vai melhorar.”
Martinho da Vila
Imagine-se em atividades em que precise colocar motivação e empenho: faxina da casa, limpeza do carro ou exercícios na academia. Certamente tudo fica mais prazeroso ao som da música de que você tanto gosta. Mas, por outro lado, imagine-se acordando desanimado. Saiu de casa e encontrou alguém que lhe conta algo triste, e, para completar, liga o rádio e está tocando justamente aquela música melancólica que o faz lembrar do amor que não deu certo, de brigas com pessoas que tanto ama, do trabalho cansativo? Sem perceber, você acaba transformando algo que já não estava bom em pior ainda! E tem gente que ainda diz: era a música perfeita para o meu dia…
Nada disso, nada de aumentar o sofrimento. Vamos refletir sobre o assunto: por que a música exerce tamanha influência sobre nossos sentimentos? Caso nunca tenha se perguntado sobre isso, saiba que pesquisadores descobriram que a música tem a capacidade de aumentar ou diminuir a produção de neurotrofinas (proteínas responsáveis pela sobrevivência, desenvolvimento e funcionalidade dos neurônios) afetando, assim, o funcionamento do sistema nervoso. O sistema das neurotrofinas é capaz de regular processos celulares vitais como a liberação de neurotransmissores, tais como a dopamina e a noradrenalina. A dopamina é um neurotransmissor relacionado ao prazer, bem estar e recompensas, enquanto que a noradrenalina nos proporciona excitação física, mental, e bom humor.
Assim como palavras são gatilhos que fazem pensar em determinadas situações, sons ou imagens, a música faz isso com maior abrangência, visto que ela ativa diversas regiões cerebrais ao mesmo tempo, envolvendo áreas responsáveis por interpretar as diferentes alturas, timbres, ritmos e modulação do sistema de prazer e recompensa envolvidos na experiência musical.
De acordo com Tolstói (1889 apud Miranda, 2013): A música obriga a esquecermo-nos da nossa verdadeira personalidade, transporta-nos a um estado que não é o nosso. Sob a influência da música temos a impressão de que sentimos o que não sentimos; que compreendemos o que na realidade não compreendemos; que podemos o que não podemos[…] A música transporta-nos, de surpresa e imediatamente, ao estado de alma em que se encontrava o artista no momento da criação, confundimos a nossa alma com a dele e passamos de um estado a outro sem saber por que o fazemos.
Quanto maior a sensação de prazer relacionada a uma música, maior é a liberação de dopamina ou noradrenalina e, dessa forma, maior será a quantidade de associações que o nosso cérebro realiza com a mesma. A música pode alterar o nosso estado fisiológico através dos sistemas nervoso e neuroendócrino.
Portanto, se você almeja um dia agradável, ouça músicas que lhe despertem sensações que promovam o seu bem estar. Do mesmo modo, quando pensamos em questões de aprendizagem, a música pode ser um aliado altamente eficaz. Por exemplo: que tal começar a aula com uma boa música? Automaticamente, os alunos estão sendo preparados para a recepção do conteúdo, pois relaxam, ficam mais descontraídos (o que promove a interação professor e aluno). Ouvir música exige o desenvolvimento da capacidade de concentração, além de promover a criatividade, pois sensibiliza o aluno.
Outra alternativa é solicitar que eles componham músicas relacionadas ao conteúdo da disciplina. Com isso, há muito maior aprendizagem, pois eles terão que utilizar os conhecimentos prévios e evidenciá-los através das habilidades de leitura, escrita, interpretação, ritmo, entonação de voz, e por aí adiante. Portanto, dentro do contexto educacional, determinados tipos musicais trazem o benefício de ampliar e facilitar a aprendizagem.
Seja por motivos pessoais, na execução de uma atividade ou situação de aprendizagem, o importante mesmo é seguir a ordem do poeta, mas com o entendimento de que ao “cantar, alto e forte, a vida vai melhorar”, pois “chuvinhas” de substâncias prazerosas estarão modulando o cérebro e, consequentemente, todo o seu organismo.
Referências:
- MIRANDA, Matheus. A música e as emoções. Disponível online em:
- MUSZKAT, Mauro. Música, Neurociência e Desenvolvimento humano. http://migre.me/oNlcG
Gostaria de ver uma matéria a respeito da seguinte pergunta: Por que sinto vontade de dançar ao ouvir música? A ciência tem algum estudo a respeito do assunto?
Muito interessante, incrível como a música tem a capacidade de alterar nosso estado de espírito!
Muito bom o artigo
Música é gosto personalíssimo. Involuntariamente, todos ainda que fugazmente escutamos o que nunca queremos ouvir. É o que sói acontecer no mundo. No Brasil há uma barulheira de conteúdo deprimente que a literatura de boca-de-rua chama de latomia de corno que polui botecos e outros antros agressivos à leveza e beleza da vida. Mas aqueles irmãos poluídos foram como que condenados desde nossos tempos de senzala. Foram massificados e excluídos de uma educação que os libertaria…:)