A intersecção entre prazeres, desejos, hábitos e recompensas revela um campo rico de investigação e aplicação prática, essencial para promover estilos de vida saudáveis e comportamentos mais equilibrados e produtivos.
Hábitos são padrões de comportamento automáticos e aprendidos que desempenham um papel fundamental em nossa capacidade de navegar pelo mundo. A formação, manutenção e alteração desses padrões são profundamente influenciadas pelo sistema de recompensa do cérebro, tornando a compreensão da neurobiologia dos hábitos essencial para promover mudanças comportamentais positivas.
Nesse cenário, emerge uma sutil porém importante nuance conceitual no campo da psicologia comportamental e que tem sido investigada pelas neurociências nas últimas décadas: qual a diferença entre o “gostar” e o “desejar” do ponto vista cerebral? Aliás, existe diferença? O presente artigo explora profundamente essa questão, destacando algumas áreas cerebrais relacionadas, os principais neurotransmissores envolvidos, ou seja, os processos neurobiológicos por trás dos nossos gostos e desejos.
A compreensão da diferença entre o “gostar” e “desejar” representa um dos avanços mais interessantes e surpreendentes para a neurociência comportamental. Esta distinção não apenas ajuda a esclarecer os mecanismos subjacentes ao comportamento humano e à formação de hábitos, mas também revela a complexidade dos sistemas cerebrais e dos neurotransmissores envolvidos. Primeiramente, vamos explorar um pouco os conceitos.
“Gostar” e “desejar” são fenômenos diferentes mas interligados
O “gostar” está intrinsecamente ligado à experiência sensorial de prazer e sua percepção, sendo mediado por áreas e circuitos cerebrais específicos que incluem o córtex orbitofrontal e o núcleo accumbens, regiões ricas em receptores opioides. Neurotransmissores como os opioides endógenos desempenham um papel crucial neste processo, facilitando a sensação de prazer que acompanha experiências gratificantes. Essa conquista evolutiva foi muito importante para que pudéssemos localizar mais rapidamente recompensas em ambientes de escassez. Várias pesquisas já demonstraram que a ativação desses circuitos é essencial para a sensação de satisfação e contentamento derivada de estímulos prazerosos.
Por outro lado, o “desejar” refere-se à motivação para buscar recompensas, um processo profundamente enraizado no sistema dopaminérgico do cérebro, particularmente envolvendo a via mesolímbica que liga a área tegmental ventral (ATV) ao núcleo accumbens. A dopamina, neste contexto, não sinaliza necessariamente prazer, mas sim a importância ou o valor saliente de um estímulo, motivando o indivíduo a buscar ativamente a recompensa. Este sistema é essencial para a motivação e o impulso, mas não necessariamente para a satisfação derivada da obtenção da recompensa.
Hubs das recompensas e hábitos
O hub cerebral das recompensas (“Reward hub”), especialmente compreendido pelo núcleo accumbens e a ATV, e o hub cerebral dos hábitos (“Habit hub”), constituído especialmente pelo estriado dorsal, são fundamentais para entender como os prazeres e as motivações se traduzem em ação. Você pode ler mais sobre o assunto no artigo Hábitos: como eles se formam e o tempo necessário para formá-los no cérebro.
Enquanto o estriado ventral (núcleo accumbens) está implicado na formação de associações entre estímulos e prazeres, o estriado dorsal, com ênfase para sua porção dorsolateral, desempenha um papel crucial na automação de comportamentos que se tornam habituais. A interação entre os hubs apontados acima facilita a transição de experiências prazerosas e ações motivadas pelo desejo para hábitos automatizados.
Implicações comportamentais e clínicas
A distinção entre gostar e desejar tem implicações significativas para o entendimento do comportamento humano, desde a constituição de um estilo de vida saudável até o desenvolvimento de uma dependência. A capacidade de gostar de uma recompensa pode diminuir com a exposição repetida, enquanto o desejo por ela pode persistir ou até aumentar, um fenômeno central para o entendimento de vícios e compulsões.
Em resumo, a compreensão da distinção neurocientífica entre gostar e desejar oferece insights valiosos sobre a natureza humana, a motivação e o prazer. Explorar essas diferenças através do prisma da neurociência comportamental não apenas esclarece os mecanismos subjacentes ao comportamento humano, mas também fornece diretrizes para abordagens terapêuticas em contextos de dependência e saúde mental. A pesquisa contínua nessas áreas promete não apenas expandir nosso conhecimento sobre o cérebro humano, mas também melhorar as estratégias para promover hábitos saudáveis e bem-estar geral.
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