As emoções desempenham um papel crítico na vida cotidiana, refletindo o estado físico e mental atual de uma pessoa, impactando significativamente a cognição, a comunicação e a tomada de decisão. Emoções são geralmente consideradas como tendo duas dimensões: intensidade e valência, com a primeira referindo-se aos aspectos quantitativos da emoção e a segunda ao conteúdo emocional específico.
Temos as emoções positivas, negativas e neutras. Enquanto os estímulos considerados agradáveis e positivos são capazes de gerar um comportamento de aproximação, os estímulos desagradáveis e negativos provocam uma resposta de afastamento. Basicamente esse é panorama resumido da valência emocional.
As emoções positivas costumam aumentar o bem-estar subjetivo, a socialização e promover a saúde física e mental. Por outro lado, emoções negativas representam uma oportunidade para reafirmar a posição do indivíduo dentro da grupo, reavaliando o contato social e a própria individualidade.
Vamos entender um pouco mais sobre essa classificação e a importância desse dimensionamento emocional com as figuras e as explicações a seguir.
![O lado positivo das emoções negativas 1 modelo intensidade valencia das emocoes](https://meucerebro.com/wp-content/uploads/2023/08/modelo-intensidade-valencia-das-emocoes.webp)
![O lado positivo das emoções negativas 2 Emojis intensidade valencia emocional](https://meucerebro.com/wp-content/uploads/2023/08/Emojis-intensidade-valencia-emocional-1024x645.webp)
A importância das emoções negativas
Imagine-se em uma sala de cinema escura, prestes a assistir a um novo filme de suspense e terror. O cenário é sombrio, a trilha sonora tensa e o enredo cheio de reviravoltas inesperadas. A cada susto, seu coração acelera e suas mãos ficam suadas. Por mais desconfortável que isso possa parecer, há algo fascinante em sentir medo. Tanto é que somos impelidos a nos colocar em situações do tipo com frequência, e até pagamos por isso. Assim como no cinema, onde nossas emoções negativas podem gerar uma experiência emocionante, transformadora, na vida cotidiana, essas emoções também podem ter um lado positivo.
Ao abordarmos o tema “o lado positivo das emoções negativas”, é importante destacar que essas emoções desempenham um papel crucial em nosso bem-estar emocional. As emoções negativas são fisiológicas e não deveriam ser demonizadas. Afinal, não estamos programados para sentir apenas alegria e felicidade constantes. As emoções negativas experimentadas de forma equilibrada – como tristeza, raiva, medo e até mesmo o tédio – têm sua relevância e valor próprios. Como veremos, as emoções negativas nos desafiam a buscar soluções e a evoluir.
A função adaptativa das emoções negativas
Um ponto-chave a ser considerado aqui é a função adaptativa das emoções negativas.
A tristeza, por exemplo, permite que expressemos nossa dor e processemos perdas significativas em nossas vidas. Ela pode nos ajudar num primeiro momento a nos reconectar com nosso próprio eu e, num segundo momento, a nos conectar com os outros, buscando apoio emocional e reavaliando nossas prioridades.
Da mesma forma, a raiva nos impulsiona a reconhecer injustiças e a tomar medidas para corrigir situações inadequadas, tornando-se uma importante força motriz para a mudança.
Evidências científicas apontam que a raiva também tem o seu papel na aprendizagem e melhora do desempenho, auxiliando na remoção de obstáculos cognitivos e mantendo o cérebro focado na tarefa. A visão de que um certo nível de emoção negativa seja necessário para aumentar o desempenho remete à centenária lei de Yerkes-Dodson. Ela propõe que um certo grau de estresse ou excitação serviria para otimizar o comportamento.
O medo, por sua vez, desencadeia respostas de autopreservação e nos prepara para o desconhecido. Ele pode nos tornar mais cautelosos em situações perigosas, ajudando-nos a evitar riscos desnecessários.
O tédio, por sua vez, nos estimula a buscar novas experiências e a criar oportunidades de crescimento pessoal, movendo-nos na direção de um ambiente com mais estímulos e possibilidades.
As emoções negativas podem nos proporcionar uma perspectiva valiosa sobre nós mesmos e sobre o mundo ao nosso redor. Ao experimentarmos essas emoções, somos desafiados a refletir sobre nossas crenças, valores e necessidades. Tal reflexão pode nos guiar em busca de uma maior autoconsciência e autenticidade, permitindo-nos fazer escolhas mais alinhadas com nossos verdadeiros desejos e aspirações.
Autoconhecimento e autoconsciência através das emoções negativas
É muito importante ressaltar que o lado positivo das emoções negativas não consiste em suprimir ou evitar essas emoções. Pelo contrário, trata-se de aceitá-las como partes integrantes de nossa experiência humana e aprender a lidar com elas de forma saudável e construtiva. Isso envolve reconhecer nossos sentimentos, expressá-los de maneira adequada e buscar recursos adequados – como apoio social, atividades de autocuidado e técnicas de enfrentamento.
Vale lembrar que nenhuma emoção é “boa” ou “ruim” por si só. O conceito de valência não remete a isso. Todas têm seu propósito e seu valor. O segredo está em aprender a reconhecer e equilibrar essas emoções, para que possamos aproveitar o poder evolutivo que elas têm de nos impulsionar ao crescimento pessoal e à autenticidade. Como no suspense do cinema, onde as emoções negativas nos proporcionam uma experiência intensa e catártica, em nossa vida diária, elas têm o potencial de nos tornar seres humanos mais resilientes e conscientes de nós mesmos.
Assim, ao explorar e compreender o lado positivo das emoções negativas, podemos desenvolver uma perspectiva mais rica e compassiva, tanto em relação a nós mesmos quanto aos outros. Ao abraçarmos todas as nuances da experiência emocional, estaremos mais próximos de vivermos uma vida plena e autêntica, onde cada sentimento, mesmo aqueles rotulados como “negativos”, contribui para a nossa jornada pessoal de crescimento e autodescoberta.
Referências e Leitura Complementar:
- Long, F., Zhao, S., Wei, X., Ng, S. C., Ni, X., Chi, A., … & Wei, B. (2021). Positive and negative emotion classification based on multi-channel. Frontiers in Behavioral Neuroscience, 15, 720451. ➞ Ler Artigo
- Rowe, A. D., & Fitness, J. (2018). Understanding the role of negative emotions in adult learning and achievement: A social functional perspective. Behavioral Sciences, 8(2), 27. ➞ Ler Artigo
- Cui, G., Li, X., & Touyama, H. (2023). Emotion recognition based on group phase locking value using convolutional neural network. Scientific Reports, 13(1), 3769. ➞ Ler Artigo
- Kutsuzawa, G., Umemura, H., Eto, K., & Kobayashi, Y. (2022). Classification of 74 facial emoji’s emotional states on the valence-arousal axes. Scientific Reports, 12(1), 398. ➞ Ler Artigo