Lobo temporal: anatomia, função e correlações clínicas

O lobo temporal é uma parte do cérebro exclusiva dos primatas, sendo maior no ser humano, acomodando 17% do córtex cerebral. As principais funções relacionadas a este lobo incluem audição, olfato, função vestibular, memória, interpretação de imagens, linguagem e comportamento emocional.[1]

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Ao final deste artigo, você aprenderá mais sobre a anatomia do lobo temporal. Também serão discutidas suas principais funções e algumas correlações clínicas importantes.

Lobo temporal - Anatomia do cérebro
decade3d / Shutterstock

Anatomia do lobo temporal

No cérebro, o lobo temporal está localizado imediatamente abaixo do sulco lateral, e seu limite posterior, com o lobo occipital, é a incisura pré-occipital. Profundamente, cada um dos lobos temporais faz limite com a ínsula e estruturas do sistema límbico.

Em relação ao crânio, o lobo temporal está localizado profundamente ao osso temporal de cada lado, na fossa média. Adota uma postura inclinada para baixo e para frente, assemelhando-se ao polegar de uma luva de boxe.

Quando avaliamos o lobo temporal superficialmente, encontramos três faces: lateral, inferior e medial. Três giros constituem a face lateral: os giros temporais superior, médio e inferior.

Ainda na face lateral, profundamente à fissura lateral, ou de Sylvius, estão localizados os giros temporais transversos. O maior e mais anterior deles, correspondente à área 41 de Brodmann, recebe o nome de Giro de Heschl.[4] Posteriormente a este giro temos o plano temporal, uma região triangular considerada o coração da área de Wernicke. Esta importante área será abordada mais adiante.

O giro temporal inferior continua para baixo e medialmente e termina no sulco de mesmo nome, que o separa do giro occipitotemporal medial (ou fusiforme). Ainda na face inferior, o sulco colateral limita o giro parahipocampal do fusiforme. O giro parahipocampal é na verdade uma continuação do giro do cíngulo na face medial de cada hemisfério.

Na extremidade anterior do giro parahipocampal temos o uncus, funcionalmente associado ao olfato e mecanicamente ao evento de herniação cerebral e anisocoria.

uncus lobo temporal medial giro
Uma visão medial do lobo temporal. Em evidência, o uncus.

Outra estrutura importante da anatomia do lobo temporal é a cavidade ventricular (especificamente o corno temporal do ventrículo lateral). Em seu assoalho e parede medial, temos o hipocampo.[5]

Funções do lobo temporal

O lobo temporal está envolvido em diversas funções sensoriais e comportamentais no ser humano. É considerado “polissensorial” pois integra vias neurais auditivas, sensoriais, visuais e límbicas. Em linhas gerais, o lobo temporal está relacionado à formação de memórias, percepção auditiva e interpretação de imagens.

Linguagem

Logo depois do córtex auditivo primário, no córtex temporal esquerdo, encontra-se a área de Wernicke. Ela inclui a parte posterior do giro temporal superior, o plano temporal no assoalho do sulco central e a área parietoccipitotemporal, incluindo o giro angular (áreas 22 e 39 de Brodmann).

A área de Wernicke é responsável pela compreensão e produção da linguagem. Lesões ocasionam uma fala repleta de erros, afetando principalmente o conteúdo fonológico das palavras.[2]

Memorização

O lobo temporal desempenha importante papel relacionado às memórias. Basicamente, dois tipos delas dependem da atuação do hipocampo, as memórias declarativas e aquelas relacionadas à orientação espacial.

Enquanto a primeira diz respeito a fatos e eventos, como memorizar textos ou nomes, a segunda envolve caminhos ou rotas. A neurociência já demonstrou como o hipocampo de taxistas, capazes de armazenar várias trajetos em função do trabalho que desempenham, é relativamente maior, especialmente no hemisfério cerebral direito.[3]

O hipocampo também faz a ponte entre memórias de curto e longo prazo, que serão armazenadas em outras partes do cérebro.

Processamento visual

Acreditava-se que a região medial do lobo temporal estava envolvida exclusivamente com o processamento de memória. Recentemente ficou demonstrado que ela também atua na percepção visual. Em conjunto com o córtex visual, o lobo temporal medial analisa a complexidade dos sinais visuais e facilita a síntese da memória visual de longo prazo.[6]

Algumas partes do lobo temporal são cruciais para a memória de reconhecimento espacial e de objetos.

Comportamento emocional

Em relação às emoções, o lobo temporal também desempenha importante papel, especialmente por fornecer algumas de suas partes para a formação do chamado sistema límbico.

Uma dessas estruturas é a amígdala. Implicada em vários aspectos do comportamento emocional e social, lesões na amígdala podem prejudicar domínios seletivos de afeto e cognição, todos relacionados à avaliação do significado emocional e social de eventos sensoriais.[7]

 

Correlações clínicas

O lobo temporal costuma ser danificado por isquemias, traumas e infecções. Pode também ser alvo de doenças autoimunes, neoplasias e intoxicações.

Como vimos, lesões do lobo temporal podem prejudicar a compreensão auditiva, a prosódia, o reconhecimento facial, a decodificação emocional, a nomeação, a fluência verbal, entre outras aptidões.

A seguir, duas síndromes que caracterizam bem a ampla gama de funções desempenhadas pelo lobo temporal.

Síndrome de Klüver-Bucy

A síndrome de Klüver-Bucy é uma desordem neurocomportamental rara e complicada em humanos. Resulta de lesões que envolvem a porção temporal anterior de ambos os hemisférios cerebrais, especialmente a amígdala.[8]

Outras doenças costumam estar associadas a essa síndrome. As principais são: encefalite herpética, toxoplasmose, meningite tuberculosa, traumatismo craniano, hipóxia, hipoglicemia, insolação, Parkinson, Alzheimer e doença de Huntington.

Os sintomas contam muito da atuação do lobo temporal na percepção da realidade e no comportamento emocional: agnosia visual, hipersexualidade, placidez, hiperoralidade (comer excessivamente, colocar objetos na boca) e hipermetamorfose (impulso irresistível de tocar, perda da raiva “normal” e das reações desencadeadas pelo medo).

Há todo um contexto de desordem social.

Epilepsia do lobo temporal

Outra correlação clínica importante de lesões do lobo temporal se dá com a epilepsia. Síndromes epilépticas que acometem o lobo temporal costumam se diferenciar bastante de outros subtipos em função de certos sintomas e comportamentos. Confira alguns:

  • irritabilidade;
  • explosões de raiva;
  • ansiedade;
  • depressão;
  • pedantismo;
  • obsessão;
  • egocentrismo;
  • perseveração;
  • delírios e alucinações paranoides.

Os sintomas comportamentais relacionados ao discurso pedante e perseverante, além do egocentrismo e obsessividade, formam um traço de personalidade típico, defendido por alguns especialistas como personalidade do lobo temporal.

Referências:

[1] Kiernan, John. (2012). Anatomy of the Temporal Lobe. Epilepsy research and treatment. 2012. 176157. 10.1155/2012/176157.

[2] Ardila, Alfredo & M. Safffran, Elizabeth. (2017). Wernicke’s area.

[3] A Maguire, Eleanor & Woollett, Katherine (Katya & Spiers, Hugo. (2006). London Taxi Drivers and Bus Drivers: A Structural MRI and Neuropsychological Analysis. Hippocampus. 16. 1091-101. 10.1002/hipo.20233.

[4Amunts, K. et al. (2012). The Human Nervous System (Third Edition), pages 1270-1300, chapter 36, Auditory System. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-374236-0.10036-7

[5] Lech, Robert & Suchan, Boris. (2013). The Medial Temporal Lobe: Memory and Beyond. Behavioural brain research. 1. 10.1016/j.bbr.2013.06.009.

[6] Khan, Zafar & Martín-Montañez, Elisa & G Baxter, Mark. (2011). Visual perception and memory systems: From cortex to medial temporal lobe. Cellular and molecular life sciences: CMLS. 68. 1737-54. 10.1007/s00018-011-0641-6.

[7] Cristinzio, Chiara & Vuilleumier, Patrik. (2019). The Role of Amygdala in Emotional and Social Functions: Implications for Temporal Lobe Epilepsy.

[8] Chou, Chao-Liang & Lin, Ya-Ju & Sheu, Yu-Lin & Lin, Chen-Ju & Hseuh, I-Hung. (2008). Persistent Klüver-Bucy syndrome after bilateral temporal lobe infarction. Acta neurologica Taiwanica. 17. 199-202.

Leonardo Faria

Leonardo Faria

Neurocirurgião (UFU) com Título de Especialista pela Associação Médica Brasileira (AMB) e Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN). CEO da Neurocirurgiões do Triângulo. Criador do Meu Cérebro e CEO da My Brain University, primeira universidade inteiramente digital sobre o cérebro. Pós-graduado em Neurociências e Comportamento (PUCRS). Empreendedor digital certificado pela Singularity University com imersão no Vale do Silício (EUA). Idealizador do Congresso Online Meu Cérebro (COMECE), maior evento inteiramente online sobre cérebro e neurociências já realizado no Brasil de forma interdisciplinar. Autor de e-books e palestrante. Mentor na My Brain University®.

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