Escolas expostas a altos níveis de poluição do ar, relacionados ao tráfego, podem contribuir para um desenvolvimento cognitivo mais lento em crianças, segundo artigo publicado no PLOS Medicine.
Alunos, com idades entre 7 e 10 anos, que frequentam escolas expostas a altos níveis de poluição do ar relacionados ao tráfego, apresentam uma redução na velocidade do desenvolvimento cognitivo, de acordo com um estudo recente publicado por Jordy Sunyer e colaboradores do Centro de Pesquisa em Epidemiologia Ambiental (CREAL – Centre for Research in Environmental Epidemiology), na Espanha. O estudo foi publicado pelo periódico semanal PLOS Medicine.
Suspeita-se que a poluição do ar seja considerada tóxica ao sistema nervoso e ao seu desenvolvimento. Muitas escolas estão localizadas próximas à estradas movimentadas e a poluição causada pelo tráfego pode afetar as crianças que lá se estudam. A pesquisa, publicada essa semana, no dia 3 de março de 2015, teve por objetivo avaliar se a exposição de crianças na escola primária aos poluentes atmosféricos do trânsito está associada ao desenvolvimento cognitivo.
Por que o Sistema Nervoso seria mais susceptível a poluição?
O sistema nervoso começa seu desenvolvimento ainda na vida intrauterina, quando se desenvolvem as estruturas e circuitos neuronais básicos do cérebro. Quando a criança nasce, esse órgão apresenta um quarto do tamanho do cérebro adulto. Os circuitos e estruturas relacionados com as funções vitais estão bem desenvolvidos nesse momento, mas o córtex, responsável pelo pensamento e controle de ações, ainda não está totalmente formado. Grande parte do córtex cerebral se desenvolve durante a infância e adolescência.
A exposição a poluentes atmosféricos pode interferir nesse desenvolvimento e prejudicar o rendimento escolar de crianças, segundo o estudo de coorte realizado na cidade de Barcelona na Espanha. Foram acompanhadas 2.715 crianças em 39 escolas, de semelhante nível socioeconômico, por doze meses. Testes computadorizados foram utilizados pelos pesquisadores para medir o desenvolvimento, a cada três meses, especialmente no que se refere à memória de trabalho, memória de trabalho superior e capacidade de foco e atenção, funções intimamente relacionadas com a aprendizagem.
Foi observado, no estudo, que o desenvolvimento dos parâmetros cognitivos das crianças que frequentavam o grupo de escolas com alto nível de exposição aos poluentes atmosféricos, em relação às crianças das escolas menos expostas à poluição do ar, foi inferior. Por exemplo, houve um aumento de 11,5% da memória de trabalho nas escolas pouco poluídas, durante os 12 meses de acompanhamento das crianças, mas apenas 7,4% de aumento, no mesmo período, da memória de trabalho dos alunos que estudavam nas escolas com altos níveis de poluição.
Poluentes podem “inflamar” o cérebro
Entre os poluentes relacionados ao trânsito que apresentaram alta penetração em sala de aula, foi encontrada uma associação entre o Carbono Elementar (CE) e partículas poluentes em suspensão no ar e o déficit de desenvolvimento cognitivo da criança. O dado é coerente com resultados em estudos animais que provam que as partículas em suspensão podem causar o rompimento da barreira hemato-encefálica, ativação da micróglia e inflamação no cérebro.
A partir dos resultados encontrados foi possível inferir que o desenvolvimento do cérebro na infância pode ser vulnerável à poluição do ar relacionada ao tráfego nas ruas, mas é importante ressaltar que problemas no desenvolvimento cognitivo não necessariamente estão relacionados à poluição do ar provocada pelo trânsito. Causas externas ignoradas pela pesquisa também podem ter influenciado o desenvolvimento das crianças analisadas. Essa conclusão tem implicações diretas nos projetos de regulamentação da poluição do ar. Promover um melhor desenvolvimento cognitivo dos alunos passa necessariamente pela melhoria da qualidade de vida e, agora, mais especificamente, por um melhor planejamento da localização de novas escolas, para que estas fiquem distantes dos locais mais poluídos.
Fonte: PLOSMedicine
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