O que é uma experiência de quase morte?
Experiências de quase morte (EQM’s) podem ocorrer após paradas cardíacas, asfixias, situações em que há grande perda de sangue, intoxicações, momentos em que se está submetido a intenso medo, enfim, experiências nas quais as pessoas ficam fisiologicamente ou psicologicamente próximas da morte. As EQM’s são caracterizadas por memórias vívidas e extremamente realistas. Alguns dos relatos comuns são: a viagem por um túnel em direção a luz, encontro com seres espirituais, sensação de paz e ausência de dor, encontro com parentes falecidos, visão retrospectiva da vida e saída do corpo (experiência fora do corpo – EFC).
Após uma EQM a pessoa frequentemente passa por uma transformação, cuja algumas das características são: mudanças positivas nas atitudes sociais e religiosas, busca por significado pessoal, redução do medo da morte, interesse em auto compreensão, diminuição da competitividade e do materialismo e maior compaixão por outras pessoas.
O que é curioso sobre a EQM
Os estudos geralmente são feitos com pacientes que sofrem paradas cardíacas e relatam terem vivido alguma experiência durante esse período. Muitas vezes eles dizem que saíram de seus corpos, se viram a partir de uma perspectiva exterior, como se estivessem flutuando e assistiram ao procedimento de reanimação. O mais curioso é que não é incomum que o paciente descreva com acuidade o que ocorreu, como se realmente tivesse assistido, fato esse que pode ser considerado como uma percepção verídica quando o que é narrado por ele é posteriormente confirmado por testemunhas independentes.
Porém, após uma parada cardíaca em poucos segundos o fluxo sanguíneo para o cérebro é interrompido e ele se torna isoelétrico, totalmente disfuncional, o que significa que a percepção e a memória dessa percepção tornam-se impossíveis. Argumenta-se que pequenas áreas cerebrais possam estar funcionando e assim constroem essas experiências. Mas são características das EQM’s experiências vívidas, com emoções, sensações visuais, auditivas e até mesmo olfatórias, uma pequena área do cérebro não poderia criar isso.
Como explicar as EQM’s?
Existem teorias psicológicas e fisiológicas que tentam explicar as EQM’s. Um exemplo de primeira é de que a expectativa de como deve ser a morte cria a EQM como uma forma de defesa psicológica. No entanto, crianças, que são menos condicionadas culturalmente com relação a expectativas da morte, descrevem EQM’s de maneira similar aos adultos.
Entre as teorias fisiológicas existe a de que as EQM’s na verdade são alucinações causadas pelos baixos níveis de oxigênio (hipóxia) e o aumento do nível de dióxido de carbono. Porém, uma EQM pode ocorrer numa situação em que não há hipóxia, por exemplo, quando quase se sofre um acidente. Além disso, quando os níveis de oxigênio caem e os pulmões ou coração não funcionam adequadamente as pessoas geralmente ficam confusas, agitadas e tem poucas ou nenhuma lembrança do que ocorreu, já numa EQM as memórias são lúcidas, conscientes e bem estruturadas.
Uma explicação que é dada para a percepção de estar fora do corpo é a de que ela na verdade é uma reconstrução imaginativa dos eventos que ocorreram antes da pessoa ficar inconsciente ou quando está recuperando a consciência. No entanto, essa explicação não é correta visto que memórias de eventos que ocorrem logo antes ou após a perca da consciência são ausentes ou confusas e não tem um impacto transformador na vida de quem as experiencia, sem mencionar que muitas EFC são percepções verídicas.
Como o estudo dessas experiências pode auxiliar no que se sabe sobre a relação entre cérebro e mente?
Teorias unicamente materialistas não conseguem explicar como as pessoas experienciam pensamentos complexos e vívidos que são validados como verídicos posteriormente, em momentos nos quais a atividade cerebral está aparentemente ausente. As experiências de quase morte sugerem que a mente não é produto do cérebro, ele parece ser na verdade uma interface para a mente e a consciência. Usando a analogia de HAESLER E BEAUREGARD:
“Para ilustrar o conceito de Interface no que diz respeito à relação entre mente e cérebro, esse órgão pode ser comparado a uma televisão (TV). Este dispositivo recebe sinais de transmissão (ondas eletromagnéticas) e os converte em imagem e som. Se danificarmos os componentes eletrônicos dentro do aparelho de TV, podemos perder a imagem na tela e o som porque a capacidade da TV para receber e decodificar os sinais de transmissão é prejudicada. Mas isso não implica que os sinais de transmissão são, na verdade, produzidos pela TV. Do mesmo modo, os danos em uma região específica do cérebro podem interromper os processos cognitivos específicos mediados por esta estrutura cerebral. Mas tal perturbação não implica que estes processos cognitivos são estritamente redutíveis a atividade neural nessa região.”
Referências: Revista Psiquiatria Clínica (1); Revista Psiquiatria Clínica (2)