...
Meu Cérebro
  • Sobre
  • Artigos
  • Vídeos
  • Podcast
  • Congresso
  • Universidade
  • Clínica
  • Contato
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Entrar
Assinar
Assinar

“Remédio de doido”? Entenda mais sobre os psicofármacos

Leonardo Faria por Leonardo Faria
30/04/2024
em Todos os artigos
A A
21

Tratar doenças em geral não é algo muito fácil. Para quem pratica, fica claro que até mesmo um tratamento de uma simples dor de cabeça pode não ser tão simples e previsível assim. O que falar, então, do campo ainda incerto e misterioso da saúde mental? Se existe uma parte do corpo que é imprevisível, é o tal do cérebro. Você sempre quis entender um pouco de como funcionam aqueles “remedinhos de doido” que talvez algum parente seu tome e você nem saiba? Vamos tentar explicar de uma maneira mais simples e geral como alguns deles agem.

psicofármacos
Ainda existe muito medo quanto aos “remédios da cabeça”, muitas vezes decorrente da falta de informações sobre como funcionam, seus riscos e modo correto de uso.

Antipsicóticos

As síndromes psicóticas, aquelas que cursam com alucinações, delírios e, em alguns casos, com declínio cognitivo, são muito variadas tanto em questão de sintomas quanto de etiologias. Existem as “primárias”, como a esquizofrenia, e outras “secundárias” a outras condições de saúde como as demências, a depressão e o uso de algumas drogas. Em geral, as pesquisas mostraram que os sintomas das psicoses surgem pelo excesso de dopamina atuando no cérebro, em especial sobre receptores D2. A cocaína, por exemplo, atua inibindo a recaptação de dopamina nas sinapses, acumulando-a no espaço entre dois neurônios. Como se trata isso, então? Com bloqueadores dos receptores D2 de dopamina, é claro! E aí entram praticamente todos os antipsicóticos conhecidos.
Os primeiros antipsicóticos criados, conhecidos como típicos, atuavam quase que exclusivamente sobre a dopamina, podendo citar como exemplos o haloperidol e a clorpromazina. Contudo, o bloqueio era tão potente, que surgiam efeitos colaterais, como a síndrome extrapiramidal (com sintomas semelhantes aos da doença de Parkinson). Para evitar isso, foram criados os antipsicóticos atípicos, que atuam tanto sobre receptores de dopamina quanto de serotonina. Como exemplos, temos a risperidona, a olanzapina, a quetiapina e outros. E aí pode surgir a pergunta: “Mas, se eles atuam menos sobre a dopamina, devem ser menos eficientes… não?”. Para a surpresa de todos, eles atuam satisfatoriamente sobre a psicose sem causar tantos efeitos colaterais, o que fez os cientistas se questionarem se os sintomas psicóticos realmente vinham só da ativação excessiva por dopamina. Essa suspeita é apoiada pela observação, nas pesquisas, de que excessos de serotonina e acetilcolina também podem desencadear alucinações e outros sintomas psicóticos.
Esses medicamentos podem ser necessários a longo prazo nos casos de psicose por esquizofrenia ou mania, mas podem ser usados por curto período de tempo naqueles casos de psicose autolimitados (geralmente, secundários a um quadro depressivo ou uso de drogas). Nas psicoses “secundárias”, claro, o tratamento realmente eficaz é o tratamento da condição de base associada à síndrome.

Antidepressivos

Os famosos antidepressivos atuam de maneira um pouco diferente. O que as pesquisas mostraram, ao longo do tempo, é que os sintomas depressivos eram gerados, muitas vezes pela deficiência na neurotransmissão por serotonina e noradrenalina. O uso de medicamentos que aumentavam a quantidade desses neurotransmissores (NT) no cérebro melhorava os sintomas, completando os resultados.
Consequentemente, o que os antidepressivos fazem é aumentar a quantidade de serotonina e/ou noradrenalina na fenda sináptica através de diversos mecanismos. Quando os NT são liberados na sinapse, são também recaptados pelo neurônio que os liberou, a fim de reutilizá-los ou para que sejam destruídos. Por isso, se as proteínas que fazem essa recaptação forem bloqueadas, a o efeito do NT aumenta. Isso pode ser feito por bloqueadores da recaptação de serotonina e noradrenalina (antidepressivos tricíclicos e inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina – IRSN), bloqueio da recaptação de serotonina isoladamente (pelos inibidores seletivos da recaptação de serotonina – IRSS) ou pelo bloqueio de enzimas que degradariam e eliminariam essas substâncias (como os inibidores da monoaminooxidase – IMAO). Alguns exemplos de cada classe são:
– Tricíclicos: Amitriptilina, nortriptilina, imipramina, doxepina e outros
– IRSN: venlafaxina, duloxetina e outros
– IRSS: sertralina, fluoxetina, paroxetina, escitalopram, citalopram e outros
– IMAO: iproniazida, isocarboxazida e outros.
Assim como os antipsicóticos, por atuarem em vários tipos de NT, existem variações grandes de efeitos de um para o outro, mesmo entre medicamentos da mesma classe. Um pode ser muito mais potente que o outro, ou mesmo apresentar efeitos “extras” como atuar melhor na redução da ansiedade, causar sonolência e etc. Também existe grande variedade nos efeitos colaterais.
Muitos pacientes desistem do tratamento em seu início por esperarem um efeito imediato da droga. É importante lembrar que o efeito dos antidepressivos aumenta com o tempo e que, na grande maioria dos casos, os efeitos só se iniciam dentro de 3 a 4 semanas! Ou seja: nesse caso, tempo é efeito e é preciso paciência até que os resultados comecem a aparecer.

Sedativos e hipnóticos

Insônia e ansiedade são problemas comuns tratados, algumas vezes, com medicamentos também comuns. Os agentes sedativos e hipnóticos são usados em contextos muito variados, desde tratamento dos problemas do sono até crises convulsivas. Eles podem exercer efeito sedativo (induzindo calma, redução da atividade e sonolência) ou hipnótico (induzindo o sono) dependendo da potência do medicamento e da dose usada.
A grande maioria desses psicofármacos atua sobre um NT chamado GABA. Os benzodiazepínicos (dizepam, lorazepam, clonazepam, alprazolam e outros) e medicamentos semelhantes (como zolpidem, zopiclona e outros) atuam sobre receptores de GABA aumentando sua afinidade pelo NT. Outros agentes como os barbitúricos (fenobarbital, pentobarbital e outros) atuam semelhantemente aos benzodiazepínicos, mas aumentam a atividade dos receptores através de outros mecanismos (aumentando a passagem de íons cloreto através da membrana neuronal, por exemplo).

rivotril
O Rivotril (clonazepam) é um exemplo de benzodiazepínico usado com muita frequência, e que gera muitas dúvidas e receios quanto à possibilidade de “viciar” o paciente.

E aí vem a grande dúvida da maioria dos usuários desses medicamentos: eles causam dependência? Como a maioria dos assuntos em medicina: nem sempre e nem nunca. O uso ao longo de algumas semanas já é suficiente para causar certo grau de tolerância (ou seja, a pessoa precisa de doses maiores do psicofármaco para atingir os mesmos efeitos de antes). Em alguns casos, ocorre até mesmo crises de abstinência com ansiedade e sintomas depressivos na retirada do remédio. Se houver essa tolerância, o quadro pode ser tratado com uma retirada gradual do medicamento (ao invés de uma retirada brusca) ou com o uso de outros fármacos (como o flumazenil ou antidepressivos).

Por que saber sobre isso?

Talvez para a população em geral, nem todas essas informações sejam muito relevantes. Para essas pessoas, é importante entender alguns princípios do uso desses medicamentos. Primeiramente, apesar dos nomes, você não precisa ter esquizofrenia para precisar de um antipsicótico. Existe grande preconceito com os “remédios de doido” que aumentam a resistência dos pacientes ao tratamento. As funções cerebrais são muito complexas, e os neurotransmissores sobre os quais esses remédios atuam (dopamina, serotonina, noradrenalina, GABA, glutamato, acetilcolina etc) estão envolvidos em muitas outras funções corporais (não só neuropsiquiátricas). Por isso, não se assuste se seu profissional da saúde te passar um desses remédios: ele/a não (necessariamente) está querendo internar você em um hospital psiquiátrico. A ansiedade, por exemplo, pode ser tratada com antidepressivos, sedativos/hipnóticos ou mesmo com antipsicóticos.
Já para os médicos, é importante entender a fundo como os psicofármacos funcionam e as particularidades que existem dentro de cada classe. Se, por um lado, os pacientes têm resistência ao uso desses medicamentos, por outro, existem médicos receitando desnecessariamente ou de forma errônea esses psicofármacos. É importante lembrar dos possíveis efeitos colaterais de cada um, dos horários mais adequados de administração etc. Também vale ressaltar que as medidas não farmacológicas são essenciais em saúde mental, sendo complementadas por e complementares às terapias farmacológicas.
Fontes: Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, Goodman & Gilman: As bases farmacológicas da terapêutica
Imagens: Imagem 1, Imagem 2

Mais Artigos e Vídeos

Livros para colorir: os benefícios para o cérebro estressado
Todos os artigos

Livros para colorir: os benefícios para o cérebro estressado

11/02/2025
Do veneno à fogueira: a curiosa história da saúde mental
Todos os artigos

Do veneno à fogueira: a curiosa história da saúde mental

30/04/2024
Sono e lavagem cerebral: a incrível descoberta de que o cérebro remove toxinas enquanto dormimos
Todos os artigos

Sono e lavagem cerebral: a incrível descoberta de que o cérebro remove toxinas enquanto dormimos

04/05/2024
Certo ou errado? Tudo é uma questão de ponto de vista…
Todos os artigos

Certo ou errado? Tudo é uma questão de ponto de vista…

30/04/2024
Agora você pode encontrar suas memórias perdidas
Todos os artigos

Agora você pode encontrar suas memórias perdidas

30/04/2024
Sinais elétricos e lesões na medula espinhal: nova pesquisa
Todos os artigos

Sinais elétricos e lesões na medula espinhal: nova pesquisa

30/04/2024

Comentários 21

  1. OK win says:
    2 meses atrás

    Ótimo post! Fiquei surpreso com a quantidade de informações que geralmente não são discutidas sobre os psicofármacos. A maneira como você abordou os estigmas e a importância de entender esses medicamentos é muito relevante. Vale a pena compartilhar mais histórias sobre experiências pessoais. Obrigado pela leitura esclarecedora!

    Responder
  2. Felix says:
    5 anos atrás

    Eu fui diagnosticado com esquizofrenia residual em Santa Inês eu tomo Risperidona uma vez por dia uma mg

    Responder
  3. Maria says:
    5 anos atrás

    Minha mãe quando viva, tomava medicação para dormir e ansiedade.
    Agora, depois de morta, o médico psquiatra deu um atestado que ela era incapaz para vida civil e trabalhista. Sendo essa incapacidade uma inverdade, pois criou os filhos, trabalhou, comprou e tal. Teve uma vida normal como qualquer outra pessoa.
    Como proceder nessa situação?

    Responder
  4. Leandro says:
    5 anos atrás

    Quais que nao tenha cheiro nem sabor

    Responder
  5. Eliane Rebelo Kelly says:
    6 anos atrás

    Minha filha tem problema de trostorno e mental tem dia que grita arranja briga quebra tudo rasga as roupas e não dorme e tem a mania de se aposar das coisas dos outros nenhum remédio que foi passado nem sono da nela me ajuda queria um remédio que ela fosse dormir me ajude por Deus

    Responder
    • Aguida says:
      6 anos atrás

      Qual exatamente o nome do transtorno que ela tem?

      Responder
  6. Petrus says:
    7 anos atrás

    Tomo Fluoxetina quetros Centralina

    Responder
  7. Antônio Borges de Souza says:
    8 anos atrás

    Faço uso de fluoxetina e Rivotril,as vezes acho que estou maluco, pós às vezes sinto que estou flutuando fora da realidade sou maluco?

    Responder
  8. Érica Assunção Chagas says:
    9 anos atrás

    Queria saber como controlar a doideira????

    Responder
    • Ferreira says:
      6 anos atrás

      Se mata

      Responder
      • Elissandro says:
        6 anos atrás

        Você que precisa tomar um remédio desses que você é doido fazendo uma pessoa você não mente não

        Responder
    • Emily Vitória says:
      6 anos atrás

      Não é para você o que eu disse é para o doido que disse para você se matar

      Responder
  9. Leopoldo Vianna, Especialista em Medicina Comportamental - Unifesp says:
    9 anos atrás

    Muito interessante e recorrente, entender um pouco sobre medicação na saúde mental,como agem e alguns efeitos colaterais. Inclusive queria fazer uma sugestão, que você também posta-se sobre doenças psicossomáticas e inclusive a falta de conhecimento de muitos profissionais, principalmente médicos, a maioria se resumem em falar para os pacientes, depois de vários exames, que tais doenças ainda não se tornaram físicas, que é apenas estresse, e as consequências de não tratar a causa, e não apenas os sintomas como muitas vezes é sugerido, deixam muitos pacientes em riscos, quando os mesmos não tratam o emocional.

    Responder
  10. Leonardo Faria says:
    10 anos atrás

    Excelente artigo Carlos! Um resumo bem acessível sobre esse mundo que envolve os psicofármacos.

    Responder
    • Geane says:
      6 anos atrás

      Te amo

      Responder
Anterior

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Mais Artigos

Uma noite sem dormir

Fiquei só uma noite sem dormir: quais as consequências para o meu cérebro?

07/05/2024
Como a escolha de uma música pode mudar o seu dia

Como a escolha de uma música pode mudar o seu dia

30/04/2024
Pensamentos negativos viciam e podem prejudicar o cérebro

Pensamentos negativos viciam e podem prejudicar o cérebro

30/04/2024
Podcast Meu Cérebro - Episódio #6 - Benefícios do sono para o cérebro Podcast Meu Cérebro - Episódio #6 - Benefícios do sono para o cérebro Podcast Meu Cérebro - Episódio #6 - Benefícios do sono para o cérebro
Podcast Meu Cérebro Episódio #7 - Transtorno bipolar Podcast Meu Cérebro Episódio #7 - Transtorno bipolar Podcast Meu Cérebro Episódio #7 - Transtorno bipolar

O melhor conteúdo sobre o cérebro humano.
Artigos, vídeos, podcast e muitos insights!

O conteúdo desse site é informativo e não dispensa consulta médica.
  • Sobre
  • Privacidade
  • Termos
  • Contato

© 2024 Meu Cérebro. Administrado por My Brain University - L. F. de Faria Empreendimentos Digitais - CNPJ 36.165.519/0001-77.

Bem-vindo de volta!

Entre na sua conta

Esqueceu a senha?

Recupere sua senha

Digite seu nome de usuário ou endereço de email para redefinir sua senha.

Acessar
Gerenciar o consentimento

Utilizamos cookies e outras tecnologias para personalizar publicidade e recomendar conteúdo. Ao acessar este site você aceita tal monitoramento. Confira a nossa política de privacidade.

Funcional Sempre ativo
O armazenamento ou acesso técnico é estritamente necessário para a finalidade legítima de permitir a utilização de um serviço específico explicitamente solicitado pelo assinante ou utilizador, ou com a finalidade exclusiva de efetuar a transmissão de uma comunicação através de uma rede de comunicações eletrónicas.
Preferências
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para o propósito legítimo de armazenar preferências que não são solicitadas pelo assinante ou usuário.
Estatísticas
O armazenamento ou acesso técnico que é usado exclusivamente para fins estatísticos. O armazenamento técnico ou acesso que é usado exclusivamente para fins estatísticos anônimos. Sem uma intimação, conformidade voluntária por parte de seu provedor de serviços de Internet ou registros adicionais de terceiros, as informações armazenadas ou recuperadas apenas para esse fim geralmente não podem ser usadas para identificá-lo.
Marketing
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para criar perfis de usuário para enviar publicidade ou para rastrear o usuário em um site ou em vários sites para fins de marketing semelhantes.
Gerenciar opções Gerenciar serviços Manage {vendor_count} vendors Leia mais sobre esses propósitos
Ver preferências
{title} {title} {title}
  • Entrar
  • Cart
  • Sobre
  • Artigos
  • Vídeos
  • Podcast
  • Congresso
  • Universidade
  • Clínica
  • Contato
Nenhum resultado
Ver todos os resultados

© 2024 Meu Cérebro. Administrado por My Brain University - L. F. de Faria Empreendimentos Digitais - CNPJ 36.165.519/0001-77.

Are you sure want to unlock this post?
Unlock left : 0
Tem certeza que deseja cancelar a assinatura?