Seu filho é daqueles que precisa ouvir uma história da mesma forma várias vezes? Exige que os alimentos sejam organizados no prato de acordo com regras pré-estabelecidas? Só toma banho se estiver com um brinquedo específico? Isso pode ser TOC.
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado pela presença de obsessões e/ou de compulsões, com grandes variações no quadro clínico. A desordem desenvolve-se, principalmente, a partir de fatores genéticos.
Obsessões podem ser definidas como eventos mentais, tais como pensamentos, ideias, impulsos e imagens, vivenciados como invasivos e incômodos. Já as compulsões são definidas como comportamentos ou atos mentais repetitivos, realizados para diminuir o incômodo ou a ansiedade causados pelas obsessões ou para evitar que uma situação temida venha a ocorrer.
March e Leonard relataram como mais frequentes em crianças e adolescentes as obsessões de contaminação, de medo de ferir-se ou de ferir os outros, sexuais e de religiosidade e as compulsões de lavagem, repetição, checagem e rituais de tocar em objetos ou pessoas.
Na infância, as compulsões comumente antecedem o início das obsessões, que podem ser menos frequentes que na idade adulta.
Há grande semelhança entre os sintomas obsessivo-compulsivos e os comportamentos repetitivos característicos de algumas fases do desenvolvimento, tais como rituais e superstições. Dos dois aos quatro anos de idade, as crianças apresentam intensificação dos comportamentos repetitivos. Os rituais mais comuns nesta fase pré-escolar acontecem, principalmente, nos horários de dormir, de comer e de tomar banho. Por exemplo, uma história precisa ser contada da mesma forma várias vezes, os alimentos precisam ser organizados no prato de acordo com regras pré-estabelecidas, só tomam banho se estiverem com um brinquedo específico. A partir dos seis anos, os rituais se manifestam mais em brincadeiras grupais. Os jogos passam a ter regras rígidas e iniciam-se as coleções dos mais variados objetos.
Rituais e superstições são normais para estas fases do desenvolvimento. Eles têm geralmente o objetivo de auxiliar no desempenho e dar uma sensação de controle sobre a imprevisibilidade dos eventos. Além disso, não interferem no funcionamento da criança e não têm a frequência ou a intensidade dos sintomas obsessivo-compulsivos.
Como reconhecer a existência de TOC?
Para o diagnóstico do TOC é necessário que as obsessões e/ou as compulsões causem interferência ou limitação nas atividades da criança, que consumam tempo (ao menos uma hora por dia) e que causem sofrimento ou incômodo ao paciente ou a seus familiares. O diagnóstico do TOC é clínico, não existindo nenhum exame laboratorial ou radiológico patognomônico da doença.
Alterações Neurológicas
A fisiopatologia do TOC está relacionada aos gânglios da base (núcleo caudado, putâmen, globo pálido, substância negra e núcleo subtalâmico). Estudos de neuroimagem têm demonstrado alterações morfológicas e funcionais nos núcleos caudados. Um modelo teórico interessante propõe a existência de uma disfunção na circuitaria fronto-córtico-estriato-tálamo-cortical. De acordo com esse modelo, o núcleo caudado (a porção estriatal da alça) não filtraria adequadamente os impulsos corticais, acarretando uma certa liberação na atividade talâmica, por ausência de inibição das estruturas estriatais. Assim, os impulsos excitatórios originados no tálamo atingiriam o córtex órbito-frontal, criando um “reforço” que impediria o sujeito de retirar do foco de sua atenção certas preocupações que normalmente seriam consideradas irrelevantes. O mesmo modelo tem sido proposto para crianças e adolescentes, apesar das possíveis diferenças nas diversas etapas do desenvolvimento ainda não terem sido delineadas.
Epidemiologia
Até o início dos anos 80, considerava-se o Transtorno Obsessivo-Compulsivo uma doença rara com uma prevalência na população ao redor de 0.05% apenas. Várias razões eram responsáveis por esta baixa estimativa:
- A relutância dos pacientes em informar seus sintomas;
- A falta de reconhecimento da diversidade de sintomas do TOC por parte dos profissionais;
- Dificuldades de diagnosticar a doença;
- O fato de os profissionais rotineiramente não fazerem perguntas sobre os sintomas obsessivo-compulsivos (Rassmusen e Eisen, 1990).
Foi a partir de 1988, com estudos epidemiológicos mais bem desenhados, que se passou a ter uma ideia mais exata da incidência e prevalência do TOC em diferentes populações.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o TOC é o quarto transtorno psiquiátrico mais comum, precedido apenas pela depressão, fobia social e abuso de substâncias. Atualmente, estima-se a prevalência para toda a vida ao redor de 2.5%. As taxas apresentadas diferem conforme a idade, com prevalências mais altas a partir da adolescência e idade adulta.
Quanto à diferença de prevalência entre os sexos, na idade adulta o TOC costuma aparecer em igualdade entre homens e mulheres, no entanto, em relação ao início dos sintomas, ele ocorre mais precocemente nos homens.
Como tratar?
O tratamento adequado para o transtorno é caracterizado pela interdisciplinaridade. É importante o trabalho conjunto de vários profissionais, como médicos, psicólogos e educadores. Tratar uma criança com TOC implica em uma série de procedimentos. Uma vez que a criança terá seu crescimento influenciado pelo convívio com esse quadro, faz parte do seguimento planejar condutas que viabilizem um desenvolvimento adequado.
Fontes: Revista Brasileira de Psiquiatria (1), Revista Brasileira de Psiquiatria (2)
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Prezada Amanda,
Como faço pra entrar em contato com você.
Participo de uma Comunidade aqui em SP, com portadores de vários transtornos mentais, gostaria de conversar com você sobre essa Comunidade !!!
Parabéns pelo artigo Caio W. Manço.