A linguagem é um fenômeno cognitivo complexo e bastante desenvolvido no cérebro humano. Sem exagero, é possível dizer que praticamente todas as regiões cerebrais estão envolvidas de alguma forma na linguagem.
Ela se reveste de aspectos emocionais, requer a reativação de várias modalidades de memória, como visuais, auditivas e olfativas e depende da integridade de inúmeras outras funções cerebrais, primitivas e filogeneticamente mais evoluídas.
Quando você fala com alguém, não imagina o grau de refinamento neurológico alcançado ao longo de milhares de anos de evolução. Se fosse eleger um aspecto do nosso comportamento que realmente nos torna diferentes em relação às outras espécies, certamente diria a linguagem.
A American Speech and Hearing Association a define como um complexo e dinâmico sistema de símbolos utilizado de diferentes modos para o pensamento e comunicação.
A linguagem pode ser avaliada e entendida segundo os parâmetros fonológico, morfológico, sintático, semântico e pragmático e os fatores biológicos, cognitivos, psicossociais e ambientais. Todos esses aspectos determinam seu aprendizado e uso.
“A linguagem é o som e a aparência das memórias.” Leonardo Faria
Como disse no início do artigo, a linguagem constitui um claro exemplo de função cerebral superior e seu desenvolvimento sustenta-se em uma estrutura anatômica e funcional determinada geneticamente e no estímulo verbal oferecido pelo meio.
Dentro dessa estrutura anatômica e funcional, participam diversos sistemas e subsistemas que atuam em série e paralelo. Por isso, avaliar a linguagem significa avaliar a saúde de todo o cérebro.
Os três sistemas funcionais da linguagem
Ao avaliá-la, Damásio (1992) considera três sistemas funcionais:
- operativo ou instrumental, que corresponde à região ao redor da fissura de Sylvius no hemisfério dominante e onde tem lugar o processamento fonológico.
- semântico, que inclui extensas áreas corticais de ambos os hemisférios e governa o significado das palavras.
- de mediação, que engloba áreas frontais, temporais e parietais que rodeiam o sistema operativo e no qual o léxico se organiza de forma modular.
Linguagem e neuroimagem
Com os avanços recentes da neuroimagem, os cientistas puderam criar modelos da ativação cerebral durante a função linguística.
Constatou-se que a localização cerebral das áreas ativadas durante o processo de linguagem, com exceção da prosódia afetiva, está lateralizada preferencialmente para o hemisfério esquerdo, envolvendo áreas corticais e subcorticais.
Em estudos realizados com indivíduos sadios, observou-se que durante a leitura silenciosa de palavras, entram em ativação os hemisférios occipitais direito/esquerdo e o córtex temporal direito.
Diferentes áreas temporais esquerdas e a região frontal inferior esquerda são responsáveis pela integração dos processos semântico e fonológico.
Em áreas como o córtex temporal medial esquerdo ocorre o processamento da compreensão linguística.
Já o giro supratemporal esquerdo, córtex motor e pré-motor ipsilaterais, putâmen esquerdo e parte de ambos os hemisférios cerebelares são responsáveis pela articulação durante a tarefa de repetir sílabas.
Antes de continuar, que tal uma aula de neuroanatomia utilizando um cérebro real?
Imagens do cérebro humano obtidas por tomografia de emissão de pósitrons revelam que a circulação sanguínea cerebral aumenta em certas regiões, que diferem segundo o tipo de tarefa efetuada. Pensar as palavras (embaixo, à direita) ativa a área de Broca.
A ativação cerebral relacionada à prosódia emocional ou afetiva (variações na modulação da voz durante o discurso) encontra-se dividida em três etapas:
- Lobo temporal direito na obtenção da informação acústica;
- Sulco temporal posterossuperior direito na representação das sequências acústicas;
- Córtex frontal inferior bilateral e gânglios da base, que representam ordenadamente a avaliação e expressão da prosódia afetiva.
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Para concluir, a linguagem na forma expressiva, representada por meio da fala, é o resultado de um conjunto de atividades cerebrais responsáveis pela recepção, integração e elaboração das mensagens linguísticas.
O déficit gerado nesta função em decorrência de lesão cerebral determinará um novo nível de funcionamento linguístico, caracterizando um quadro denominado afasia.
Fonte: Livro ‘Manual de Iniciação em Neurocirurgia’, por Fernando Campos e Gomes Pinto.
(crédito da imagem: Psiquiatria Geral)
Estou estudando a apraxia da fala e a sua relação com a alfabetizacao. Há estudos? Alguma indicação bibliográfica?
Meu filho é autista, tem 20 anos e é não verbal. Ele escuta bem e até canta,, mas não fala. Qual exame devo fazer para saber de uma possível lesão cerebral?
Olá…os exames poderiam ser Ressonância ou uma tomografia.
Já houve uma avaliação a respeito da apraxia?
Ola, poderia me orientar em uma duvida q estou sobre um paciente com alteraçao de linguagem?
Sou professor de inglês e uso esse recurso para acelerar o aprendizado de línguas. É simplesmente incrível.
Muito interessante. Como o texto das 4 fotos não bate com o texto narrativo, acho que ao narrar deveria dar o número( de 1 a 4, das fotos) para facilitar a localização. Quanto ao mais, maravilha! http://www.elazierbarbosa.com.br – Palestrante, Tema Resiliência
Verdade! Percebi que falta coerência na descrição com a imagem. Mas é bem interessante, e faltou mencionar a fonética.
Gostei da leitura. Informações interessantes. Também sou fonoaudióloga, como a outra colega e é muito importante para nós acesso a estas informações. Interessante a visão de múltiplas áreas ativadas durante cada tarefa linguística. Me faz acreditar mais ainda na neuroplasticidade. Abraços
A neuroplasticidade certamente atua nesse terreno interessante que é o da comunicação relacionada à circuitaria cerebral. Abs Ligia!
Muito bom! Leitura interessante, ainda mais para quem é da área da saúde. Sou fonoaudióloga e atendo quadros afásicos.
Que bom que gostou Lorena! Acompanhe o meu perfil para atualizações!