O potencial maléfico do cigarro e seus milhares de componentes tóxicos é bem conhecido e estudado pela comunidade científica. No entanto, será que o tabagismo provoca alterações estruturais no cérebro? Se sim, que alterações seriam essas? É o que investigou um estudo publicado em 2014 na revista Nature Neuropsychopharmacology.
Utilizando um aparelho de ressonância magnética de alta resolução, os pesquisadores mediram a espessura cortical da ínsula, um dos lobos cerebrais, o mais interno deles, em 18 pessoas fumantes e 24 não fumantes, todas com idades na faixa etária dos 16 aos 21 anos. Os especialistas queriam investigar se alguma alteração da estrutura cerebral se correlacionaria com a seguinte hipótese: a de que fumar na adolescência e idade adulta precoce favorece a dependência e a dificuldade em deixar o vício no decorrer da vida.
O que os pesquisadores encontraram?
A pesquisa sugeriu que a ínsula, uma região cortical que integra sinais heterogêneos acerca de estados internos e contribui para as funções executivas, desempenha um papel importante no ato de fumar. A exposição aos cigarros foi negativamente associada com a espessura da ínsula direita. A dependência do cigarro e o desejo de fumar foram negativamente relacionadas com a espessura cortical na ínsula direita anterior ventral.
Embora os resultados não demonstrem um nexo de causalidade, eles sugerem que existem efeitos da exposição ao cigarro sobre a estrutura do cérebro em jovens fumantes, mesmo com uma história relativamente curta de uso da substância. A integridade estrutural da ínsula pode ter implicações na previsão de consumo de cigarros a longo prazo e nos problemas com abuso de outras substâncias nesta população.
Por que o cigarro causaria isso?
Os resultados encontrados podem ser atribuídos aos efeitos neurotóxicos da nicotina e de outros constituintes do tabaco. Os participantes deste estudo começaram a fumar na adolescência (média de 15,1 anos), e estudos em animais já indicaram que a exposição à nicotina em idades precoces reduz o número de células no córtex cerebral em aproximadamente 5-10%.
Este estudo, especificamente, incidiu sobre o córtex insular por causa de seu papel central na manutenção da dependência do tabaco; no entanto, estudos em fumantes adultos sugerem que o uso do cigarro está associado a anormalidades da matéria cinzenta em todo o cérebro. O efeito depende da dose de exposição ao tabaco ao longo da vida.
Sintomas como desejo, compulsão em fumar, níveis de estresse e dificuldade para parar ou controlar o uso, como vimos, foram negativamente correlacionados com a espessura da ínsula direita anterior ventral, uma região do cérebro que integra informações interoceptivas primárias com informações emocionais. Acredita-se que essa integração gera a consciência de alguns sentimentos.
Mais trabalho é necessário para determinar se as diferenças individuais na espessura da massa cinzenta influenciam as interações no nível do circuito da ínsula com outras regiões cerebrais implicadas na ânsia. Estudos futuros deverão examinar diretamente diferenças neurobiológicas entre a ínsula direita e esquerda em pessoas fumantes.
Embora essas diferenças entre as ínsulas direita e esquerda não tenham sido explicitamente avaliadas neste estudo, os resultados indicam que a espessura cortical da ínsula direita está relacionada à exposição ao cigarro, dependência e fissura, mas não foram detectadas correlações entre o comportamento de fumar e da espessura ínsula esquerda, sugerindo que aquela pode ser particularmente relevante para o comportamento de fumar.