Você está acordado, mas não consegue se movimentar. Força e tenta mexer os braços e pernas, mas eles não respondem. Tenta falar alguma coisa, talvez chamar alguém: sem sucesso. Uma espécie de paralisia do sono. Alucinações como ver algo entrando no quarto, chegando perto de você, podem acontecer.
Quem já passou por isso reconhece o desespero. Até teorias de abdução alienígena já foram formuladas sobre o assunto. A neurociência tem a sua explicação.
Afinal, o que é a paralisia do sono?
Trata-se de uma parassonia – um distúrbio associado ao sono. Pode acontecer logo depois que adormecemos ou enquanto estamos acordando. A dificuldade para se movimentar e falar pode vir acompanhada de experiências hipnagógicas: alucinações visuais, sensoriais ou auditivas.
Pode parecer que há um intruso no local onde estamos dormindo: barulho da maçaneta se abrindo ou de passos, uma “pessoa de sombra” vindo, ou ainda uma sensação de presença ameaçadora no quarto. Pode haver também o sentimento de pressão no peito e dificuldade para respirar com a sensação de ser sufocado. Além disso, existem relatos sobre sensação de voar, flutuar ou pairar sobre o corpo.
Não ameaça a vida… mas assusta! Relatos de paralisia do sono são contados há séculos, em regiões e culturas diferentes do mundo. Apesar de não durar muito tempo (geralmente segundos ou minutos) deixa uma lembrança aterrorizante.
O que acontece no cérebro?
O sono tem fases. Uma delas é a REM (sigla em inglês para “movimento rápido dos olhos”). É nela que temos aqueles sonhos que parecem mais reais. A atividade cerebral fica semelhante à de quando estamos acordados porém o tônus muscular está bem diminuído.
A explicação para esse relaxamento muscular (atonia) do sono REM é boa: se os sonhos são vívidos nessa fase e podemos, por exemplo, sonhar que estamos fugindo de alguém, poderíamos sair correndo da cama e nos machucar. Se os movimentos estão inibidos, isso não acontece.
O problema é quando a atonia REM continua depois de acordarmos. É como se a mente já tivesse acordado, mas o corpo ainda não; e ficamos incapazes de nos mexer.
Causas da paralisia do sono
De acordo com o Medical News Today e este artigo, alguns fatores vem sendo observados quando pessoas têm paralisia do sono (e podem, então, ser causas do problema):
- Dormir de barriga para cima
- Não dormir o suficiente
- Padrões de sono irregulares
- Narcolepsia (um distúrbio caracterizado por sono súbito e incontrolável)
- Histórico familiar de paralisia do sono
Em junho do ano passado, estudiosos publicaram uma revisão de quarenta e duas pesquisas feitas sobre paralisia do sono. A ideia foi checar quais fatores realmente mais aparecem. Perceberam que dormir pouco, ou ter um sono sem qualidade, de fato são grandes responsáveis. Além disso, “o sono perturbado é comum entre aqueles que usam drogas, experimentam estresse e relatam dificuldades psiquiátricas”, segundo Gregory, um dos autores do estudo.
Existe tratamento para a paralisia do sono? Como evitar?
Você deve ter percebido, no parágrafo anterior, que os estudiosos apontaram, na verdade, hábitos de vida: como dormimos, o quanto dormimos, o que ingerimos, o nível de estresse… Prestar atenção a esses hábitos, prezar pela qualidade e quantidade do sono podem ajudar a evitar a paralisia do sono.
Geralmente não é necessário um diagnóstico médico para a paralisia do sono, a menos que os sintomas causem transtornos além da conta. A intervenção médica, até mesmo com medicamentos, é importante se a pessoa fica muito ansiosa, pensando que pode acontecer a paralisia quando for dormir, se tem dificuldade para adormecer ou ainda se sente sonolência anormal durante o dia ou simplesmente adormece em momentos inesperados e inadequados (sinais que podem indicar narcolepsia).
Uma dica dos profissionais é tentar mexer inicialmente partes pequenas do corpo, como dedos, porque isso pode ajudar a sair da paralisia do sono mais rapidamente. Ainda que não exista uma cura definitiva, saber que é algo explicado pela neurociência e que acaba em instantes pode tranquilizar quem passa por isso ou venha a ter essa experiência nada agradável.