Liberais ou conservadores, de direita ou de esquerda. Quem é mais infeliz? Quem é mais coeso? Quem obedece mais? Será que opções político-ideológicas têm a ver com estilo de vida e saúde?
Recentemente, o país vive um embate político que, apesar de não ser inédito, tem se reportado de forma muito enérgica principalmente nas redes sociais. Apesar do pluripartidarismo brasileiro, e noções equivocadas de direita, esquerda, conservadorismo e liberalismo, muita gente (não todos) se divide entre o PSDB, partido opositor, e o PT, partido da situação, com seus princípios de esquerda moderados.
Quando se discute política, muitos interlocutores advogam pela melhor qualidade de vida que uma ou outra opção poderia sustentar. Será que os conservadores são mais felizes? Será que ser um questionador político traz maiores benefícios para a saúde? Você pode até ter uma opinião formada sobre essas condições, mas embasadas por uma análise mais científica sobre as questões, algumas evidências surpreendem.
É muito importante frisar que a relação de causa e efeito inferida a partir desses estudos deve ser analisada com cautela. Não se sabe no final das contas se um tipo cerebral específico é que nos faz tomar determinadas decisões, ou se a exposição a determinadas correntes político-ideológicas é que modifica e interfere no estilo e qualidade de vida. Isso remete, antes de tudo, a uma discussão mais filosófica sobre empirismo e racionalismo do que qualquer outra coisa.
Abaixo, três estudos interessantes sobre a questão:
Viver num país conservador pode fazer mal para a sua saúde?
Um estudo norte-americano evidenciou: cidadãos que vivem em estados administrados por governos liberais (equivalentes aos de esquerda no Brasil) levam uma vida mais saudável. A agenda desses governos parece priorizar os direitos sociais e a discussão de temas polêmicos, como legalização da maconha, aborto e casamento gay.
Pode ser que, nesses locais, as populações mais pobres e isoladas recebam os devidos recursos provenientes dos programas sociais, o que justificaria os melhores índices observados. Entretanto, o mesmo estudo identificou que até os mais ricos sentem os benefícios da liberalidade: bebem menos, fumam menos e praticam mais exercícios. Como alertado anteriormente, difícil saber se os cérebros predispostos à liberalidade é que levam os indivíduos a viverem assim e, ao mesmo tempo, adotarem uma ideologia política mais “aberta”, ou se tal opção é que gera toda uma reformulação dos hábitos de vida.
Como os pesquisadores chegaram a essa conclusão?
Eles combinaram os dados de três outros estudos diferentes, em uma espécie de mini metanálise: um avaliava a saúde dos participantes (Behavioral Risk Factor Surveillance System), outro media os níveis de confiança social (Gallup Healthways Survey), e o terceiro checava as taxas de liberalismo e conservadorismo nos estados norte-americanos. Mais de 450 mil pessoas foram incluídas na pesquisa, que indiretamente, também aponta para um efeito negativo da corrupção: quando os participantes viviam próximos de pessoas honestas e prestativas, o estilo de vida saudável também era mais praticado.
Quem é mais infeliz? Liberais ou conservadores?
Pesquisas anteriores baseadas em auto-relatos e índices de bem-estar subjetivo sugeriam que os conservadores políticos eram mais felizes do que os liberais políticos. Através de uma nova e pequena compilação de estudos, descobriu-se que avaliações psicológicas de mídia, principalmente discursos e imagens, revelaram o uso mais frequente pelos liberais de uma linguagem emocional mais positiva. Os resultados foram consistentes em grandes amostras de compradores on-line, políticos norte-americanos, usuários do Twitter, e usuários do LinkedIn.
As descobertas ilustram a relação sutil entre ideologia política, auto-aprimoramento e felicidade. Iluminam, ainda, as contradições com que as diferentes formas de felicidade se manifestam através do comportamento.
Por outro lado, quem é mais obediente e coeso?
Historicamente, os conservadores sempre foram vistos como sendo mais obedientes e mais respeitosos em relação a uma liderança. Por outro lado, os liberais tendem a ser associados com protestos e atos flagrantes de rebelião. Por muito tempo, isso pautou artigos científicos e de opinião sobre as diferenças entre os dois tipos políticos, sugerindo que o ato de obediência fosse fundamental para diferenciá-los.
Recentemente, pesquisadores da Universidade de Winnipeg aprofundaram o entendimento acerca dessa percepção de obediência à autoridade, com três estudos, e descobriram que os liberais e os conservadores comportam-se de maneira mais semelhante do que possa parecer.
O primeiro ponto defendido por um dos pesquisadores, Jeremy Frimer, é que, seja de um lado ou de outro, parece haver uma necessidade fundamental de pertencer a um grupo conduzido por um líder forte. E, ainda, ambos os lados acreditam que as pessoas devem fazer o que o seu líder prega. “A diferença entre os grupos não é se eles valorizam a obediência à autoridade. Em vez disso, a diferença é sobre qual autoridade eles acreditam ser digna de obediência”, explica Frimer.
Em relação à coesão, pesquisadores da Universidade de Nova York e da Universidade de Toronto exploraram o conceito de que os conservadores desejam compartilhar a realidade mais fortemente do que os liberais. A percepção de consenso dentro do grupo pode ajudar a mobilizar seus membros para esforços coletivos a um fim comum.
Mais individualistas ou não, os liberais parecem estar mais motivados a perceberem suas crenças como relativamente únicas, o que pode prejudicar o desenvolvimento de um movimento coeso. Um desejo mais forte de uma realidade compartilhada entre os conservadores pode ser a explicação para que o capitalismo, por exemplo, tenha prevalecido em última análise às correntes reacionárias ao longo dos últimos séculos.
A conclusão
O comportamento psicoemocional do indivíduo poderia explicar as suas preferências políticas e de estilo de vida. Apesar de tantas semelhanças ignoradas entre os grupos, pequenas diferenças parecem fundamentar o sucesso de certos governos, ao receberem o apoio de grandes cotas da população. Por outro lado, antes de discutir tipologias, os princípios morais e éticos previamente existentes, e aprendidos ao longo de vivências, deveriam ser capazes de direcionar certas preferências de grupo. Assim, independente dessas preferências, valores como honestidade, administração enxuta e empatia política funcionariam como guias comuns e verdadeiramente promissores para um país.
Fontes: ScienceDirect, ScienceMag, SuperInteressante, ScienceDaily
Imagem: goo.gl/X04YCG