Pouco se fala (cientificamente) sobre quais são os efeitos da maconha no cérebro. Como ele reage a ela? Existem sequelas do uso? O uso é mesmo maléfico ou pode ser benéfico? E a tal da Esquizofrenia?
Um dos assuntos mais polêmicos de hoje em dia é a maconha, que se envolve em discussões que variam da legalização ao uso medicinal. Mas pouco se fala (cientificamente) sobre quais são os efeitos da maconha no cérebro. Como ele reage a ela? Existem sequelas do uso? O uso é mesmo maléfico ou pode ser benéfico? E a tal da Esquizofrenia?
Os canabinoides
A maconha, como qualquer outra planta ou ser vivo, não possui só uma substância química no interior de suas células. Representa mais um coquetel de moléculas diferentes que uma fonte de um composto específico. As duas principais substâncias conhecidas de sua composição são o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). O primeiro é o principal alucinógeno do vegetal, sendo responsável pela maioria dos “baratos” do uso recreativo da droga. Já o segundo, ironicamente, é como que um antagonista do primeiro, atuando mais como analgésico e desempenhado outros efeitos terapêuticos semelhantes.
Nós produzimos… maconha?
E, para nossa surpresa, “a maconha faz parte de nós” de certa maneira. Temos substâncias naturalmente produzidas em nosso sistema nervoso chamadas de endocanabinoides. Eles são o que o próprio nome diz: substâncias semelhantes às extraídas da maconha, mas produzidas em nosso corpo. As principais são a anandamida e o 2-araquidonoilglicerol, ambos derivados do ácido araquidônico, um lipídio com mil e uma utilidades em nossos processos fisiológicos.
E, claro, não produziríamos essas substâncias se elas não tivessem utilidade. Os endocanabinoides têm uma função de controle da atividade neuronal. Eles são liberados nas sinapses pelos neurônios pós-sinápticos e atuam em receptores na membrana pré-sináptica, bem ao contrário do que estamos acostumados a ver. Seu principal receptor, o CB1, uma vez ativado, inibe a atividade do neurônio pré-sináptico, interrompendo ou diminuindo a comunicação. Isso acontece toda vez que o neurônio pós-sináptico é hiperativado, em uma tentativa de controlar a própria estimulação.
Esses receptores CB1 estão presentes em todos os tipos de neurônios (produtores de dopamina, noradrenalina, serotonina, glutamatado, GABA etc) e em praticamente todo o cérebro, apresentando uma concentração particularmente alta em certas regiões como núcelo estriado, hipocampo e cerebelo, mas também na amigdala, córtex cerebral e mesencéfalo.
Para ilustrar ainda mais a importância dessas substâncias para nosso bom funcionamento, elas são essenciais na formação intra-útero do cérebro, coordenando os processos de proliferação e diferenciação neuronal, a migração dessas células para seus devidos lugares no sistema nervoso central, bem como a formação de axônios e outras estruturas importantes. Mas, antes que comecemos a prescrever a maconha para gestantes, cuidado: estudos com o excesso de canabinoides no processo de formação fetal também culminou nos mesmos problemas gerados pela sua falta!
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