Você já parou para pensar na saúde? E, principalmente, em quando ela já não é tão plena assim?
No meio de tantas doenças crônicas, dores e cartelas de medicamentos, vemos que é difícil nos manter saudáveis. E é nessas horas que buscamos outros recursos.
Exemplos? Aquelas medidas que exploram a “ligação mente-corpo” cumprem bem o papel.
Isso parece muita bobeira, não é mesmo? Se você pensa assim, mais uma pergunta: já conhece a Mindfulness?
Se não, deveria. Ela pode ser a chave para a tão sonhada saúde.
Ainda duvida? Veja o que é a Mindfulness e como ela pode ajudar em vários problemas de saúde.
O que é Mindfulness?
Mindfulness (que não tem uma tradução certa para o português) seria mais bem definida como a atenção plena no momento presente, sem julgamentos.
Ela vem das tradições Budistas milenares, dos orientais e trabalha muito com as idéias de aceitação e abertura: aceitar o presente como ele é e estar aberto(a), momento a momento, ao que acontecer (no mundo exterior ou em nosso mundo interior).
Hoje, já ficou claro como a Mindfulness ajuda em vários problemas de Saúde Mental.
Ela foi até mesmo adaptada na Redução de Estresse Baseada em Mindfulness (Mindfulness-Based Stress Reduction – MBSR), como forma de tratamento [1].
Depois, ainda foi incorporada à terapia cognitiva para formar a Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness (MBCT) [1].
Ela envolve várias práticas, sendo a mais famosa a meditação. E se engana quem acha que ela é só relaxamento e calma!
Ela melhora nossa atenção e a capacidade de escolha e ainda vai além disso: também pode melhorar por, si só, a saúde física [1].
Doenças Cardiovasculares
As pesquisas nessa área envolvem, principalmente, a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e a Insuficiência Cardíaca, mas também são investigados os efeitos da Mindfulness em pessoas saudáveis.
Antes de tudo, o principal efeito dessa prática aqui é, como em todas as outras doenças, a melhor cooperação com o tratamento.
Contudo, a meditação, por si só, reduzia a pressão arterial sistólica e a diastólica dos sujeitos dos estudos. A redução era pequena, mas era suficiente para ser considerada significativa!
A meditação também diminuiu os sintomas cardiovasculares de pacientes com insuficiência cardíaca e reduziu sua frequência cardíaca (o que é, inclusive, um dos objetivos do tratamento dessas doenças) [1].
Diabetes Mellitus
Há muito tempo o estresse vem sendo estudado no Diabetes Mellitus (DM).
Por quê? Porque ele é muito associado a dificuldades no controle da glicose plasmática (glicemia), mesmo quando o tratamento medicamentoso é seguido rigorosamente.
Já dá para adivinhar onde a Mindfulness entra aqui, não?
Nas pesquisas, os praticantes tiveram uma melhora considerável da glicemia e mesmo da hemoglobina glicada (marcador associado ao desenvolvimento de complicações).
Também houve melhor manejo da dor em pacientes que já tinham comprometimento neurológico (neuropatia diabética) [1].
HIV/AIDS
Aqui, os princípios básicos da Mindfulness foram a chave para os resultados.
A AIDS é uma doença que ainda envolve muito preconceito e é emocionalmente difícil de administrar.
Consequentemente, o principal efeito da meditação foi reduzir as emoções negativas, a impulsividade, as reações de agressividade, melhorar o auto-cuidado e criar um sentimento de grupo.
Tudo isso melhorou muito a aceitação do tratamento (cheio de efeitos colaterais) e resultou em consequente aumento da imunidade dos pacientes [1].
Doenças Gastrointestinais
Esse campo já é mais misterioso. Há poucas pesquisas sobre esse assunto.
Observou-se que a Minfulness reduz muito os sintomas da Síndrome do Intestino Irritável (doença funcional, sem uma base anatômica ou fisiológica que a expliquem) [1].
Isso era até bem esperado. Mas algumas pesquisas também trazem outras surpresas.
Já ouviu falar das Doenças Inflamatórias Intestinais (DII)? São doenças inflamatórias (incluindo a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa) que cursam com diarréia, dores abdominais e perda de sangue nas fezes, além de emagrecimento.
Uma dessas pesquisas testou se seria possível realizar as intervenções baseadas em Mindfulness nessa população [2]. É algo tecnicamente difícil de fazer pelos próprios sintomas da doença.
Contudo, não só se descobriu que isso é possível como, meio que “sem querer”, também descobriu que a meditação reduz os sintomas da doença, mesmo que de maneira leve [3].
O ruim é que poucas pessoas aceitaram participar dessa pesquisa e o resultado não foi estatisticamente significativo, sendo necessárias novas pesquisas para confirmar mesmo esse efeito.
Uma coisa é certa: a Mindfulness equilibra as nossas respostas inflamatórias, evitando tanto seu excesso (como no caso das DII) quanto sua falta [4].
Obesidade
Não. Antes que comecemos: meditar por si só não gasta calorias ou queima aquelas gordurinhas. Aqui o efeito também é predominantemente psicológico.
“Mas achei que esse artigo era sobre os efeitos da Mindfulness no corpo! Não era?” A diferença é que, aqui, a prática atua em comportamentos bem específicos e não só no estresse ou na ansiedade.
Pesquisas mostraram que meditar inibe 3 comportamentos específicos:
– O binge eating (comer, compulsivamente, grandes quantidades de alimento de uma vez);
– O emotional eating (o comer desencadeado por alegria, tristeza ou outros estímulos emocionais) e
– O external eating (quando a pessoa não consegue segurar o impulso ao ver alimentos ou sentir seu cheiro, por exemplo) [5]
A Mindfulness, inclusive, ensina a comer meditando. Ou seja, comer bem devagar, prestando atenção em todos os estímulos que o alimento oferece: forma, cor, cheiro, textura, sabor, o som da mastigação, etc.
Como resultado, conseguimos comer devagar, o que nos deixa mais satisfeitos, diminui a ingestão de alimentos e permite uma melhor digestão, reduzindo o ganho de peso.
Gravidez
Sim, a Mindfulness promete até na gestação.
É claro que a gravidez é um momento de estresse, especialmente em seu fim quando o parto e toda uma mudança de estilo de vida se aproximam.
Com esse objetivo, foi criado o Mindfulness-Based Childbirth and Parenting (MBCP) [6]. É uma forma de “treinamento” realizado com mães no último trimestre da gestação, bem como seus parceiros.
Um dos principais problemas dessa fase da gestação é bem óbvio: a dor! E, para a tristeza das futuras mães, poucos medicamentos podem ser usados nesse caso (já que muitas drogas são tóxicas ao bebê).
Mas o que a meditação tem a ver com isso?
As pesquisas observaram que o “estar mais presente, sem julgamentos” da Mindfulness aumentou muito a aceitação da condição de gestante.
Aceitando melhor as dores do parto, elas se sentiam mais capazes de suportá-las, tinham menos medo de perder o controle e compreendiam melhor a natureza temporária (e inevitável) do que estavam vivenciando [7].
A prática também promete reduzir a incidência da depressão pós-parto e melhorar os cuidados dos pais com os bebês recém nascidos (daí a participação dos parceiros no programa) [7].
A importância
O que a Mindfulness tem a ensinar é algo que as pessoas buscam muito, mas nem sempre conseguem: viver o momento. E a aceitá-lo.
Não como uma resignação, mas como um jeito mais maduro de enxergar cada situação: aceitar o que é inevitável, mas agir quando intervenções forem possíveis e necessárias.
Por isso ela melhora a tomada de decisões: a pessoa se torna mais consciente de si e do que ocorre a seu redor. Ela melhora o auto-conhecimento, a sensopercepção, a atenção e, como efeito colateral, gera tranquilidade.
Muitas vezes, seu efeito benéfico nas doenças é simplesmente melhorar a compreensão, cooperação e atitude do paciente em relação ao tratamento.
Mas, não é bem esse o ponto-chave de qualquer tratamento?
Por isso, ela não é útil apenas para condições psiquiátricas, mas também para doenças orgânicas e para aquelas pessoas que já são consideradas saudáveis.
Ao mesmo tempo, nem tudo são rosas: a Mindfulness também tem suas contraindicações. Por isso, é importante conhecer melhor a prática para que possamos usufruir de todos os benefícios que ela nos oferece.
Viver mais no momento presente é um vontade de todos. Deve ser a sua também, não? Por que não começar a meditar agora mesmo?
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Referências:
- International Scholarly Research Network (ISRN) Psychiatry, 2012
- Trials, 2013
- Trials, 2015
- Frontiers in Human Neuroscience, 2012
- Obesity Reviews, 2014
- Journal of Child and Family Studies, 2010
- British Journal of Midwifery, 2009
Imagens:
- YouTube (via Google Images)
- iStock
- creaTTor
- ibidi
- vector-eps
- publicdomainvectors.org
- coach.me